Letícia Sabatella cabe bem no papel da eterna insatisfeita. A atriz carrega consigo uma autocobrança típica de quem está sempre em busca da perfeição. Com 16 anos de carreira televisiva, Letícia volta à tela no próximo dia 11, na pele da determinada Alonsa, da minissérie Hoje é Dia de Maria. "Eu gosto de estudar, de crescer e servir melhor ao personagem", justifica. E se o perfeccionismo é uma característica da atriz, o papel vem a calhar. A segunda jornada da minissérie, dirigida por Luiz Fernando Carvalho, mais até do que sua primeira temporada, exibida em janeiro, tem um alto grau de exigência até mesmo para atores experientes. "É desafiador. O Luiz Fernando é uma pessoa que propõe isso para a gente. Isso traz uma qualidade, um universo muito rico para todos nós que estamos lá", define.
As dificuldades do papel começaram bem antes das gravações. Segundo Letícia, foram cerca de quatro meses de trabalho que incluíram preparação corporal e aulas de canto. A necessidade de se ter um elenco coeso e na mesma sintonia do texto e da música – um forte elemento condutor na minissérie – exigiram também muitas leituras e ensaios. "A gente formou um coro, o que exigiu uma harmonização, um sentimento de estar literalmente afinado, estar junto para servir de apoio à voz do outro. É uma experiência apaixonante", empolga-se.
As árduas preparações para a minissérie que mais se assemelham aos ensaios para uma peça do que para uma novela não chegaram a assustar a atriz. Letícia, ao contrário, diz que procura sempre a novidade para reinventar a carreira e fugir de eventuais estigmas. Para ela, um personagem denso em uma proposta artística onírica como Hoje é Dia de Maria traz um frescor profissional que a linguagem cotidiana e realista das novelas não oferece. "O verdadeiro ator é esse, que trabalha a voz, o corpo, tem essa habilidade de se transformar em coisas, bichos, bonecos, seres imaginários. E a história é muito rica, porque é o imaginário de uma criança", deleita-se.
Se o trabalho em Hoje é Dia de Maria é incomum em televisão, a personagem Alonsa desta segunda jornada tem pontos em comum com outros papéis que Letícia fez. Em especial a determinação com que a personagem desafia seu destino. Da mesma forma que Alonsa é uma mulher forte, Letícia recorda que, dentro de suas realidades, também a Latiffa, de O Clone e a Ana, de A Muralha, foram mulheres contestadoras. "A Latiffa queria estar naquele mundinho dela. Mas mesmo seguindo os preceitos muçulmanos, ela não aceitava algumas coisas, como o marido ter uma segunda esposa", compara.
A felicidade com o novo papel é um sentimento que Letícia Sabatella experimentou também com sua personagem de O Clone. A condescendência, contudo, não se aplica a outros papéis, como a própria Ana, de A Muralha, ou a Taís, de O Dono do Mundo, sua primeira novela, de 1991. "Eu não fiquei satisfeita. Pessoalmente, me senti frustrada com meu trabalho de atriz", cobra-se. Ao contrário, a realização pessoal dos últimos papéis na tevê trouxe um certo alento para a alma inquieta da atriz. "Talvez pelo tempo, pela maturidade que a gente adquire, eu me sinto mais realizada agora. E realizando", avalia.