Les Responsables, o rock francês que vem do Sul

No palco, o inusitado vocalista parisiense, Erwan Pottier, se entrega para uma plateia que delira com seu repertório francês, em um bar da rua Augusta, efervescência da noite paulistana. Acompanhado pelos músicos Felipe Faraco (baixo) Pedro Pastoriz (guitarra) e Luciano Bolobang (bateria), o quarteto forma a banda de rock Les Responsables, que acaba de lançar o primeiro CD “La Vaporisation”, pela Sol Discos, de forma independente.

Sim, estamos falando de rock francês. Neste trabalho o grupo traz dez faixas, entre elas uma releitura de “Mirza” (Nino Ferrer) e outra de “La fille du Père Noel” (Jacques Lanzmann/Jacques Dutronc), as demais canções são de todas de Pottier, que acredita no ato de cantar como forma de resistência com relação ao mundo.

“A nossa música não é de protesto, é bem conceitual, fala de amor, mas do lado mais real do amor, lado escuro, conflituoso das relações, fala também dos desejos humanos, com uma pegada mais psicodélica desses desejos, o inatingível… fala do inconformismo das coisas da vida!”, declara.

Engana-se quem acredita que o grupo é genuinamente parisiense. Na verdade, com exceção de Pottier, todos os meninos são de Porto Alegre. A história começou assim: em 2006, Erwan Pottier, abandonou a Cidade Luz para fazer um doutorado na área de sociologia em Porto Alegre, a convite de um professor brasileiro que conheceu em Paris. Na capital gaúcha ele, que sempre gostou de música, começou a buscar espaços para descobrir o que se ouvia por lá. Foi nesse cenário cultural da cidade sulista que eles se conheceram. Nessa época optaram por fazer covers de Serge Gainsbourg, Jacques Dutronc e Nino Ferrer. Aliás, é de Dutronc a inspiração para o nome da banda.

“A ideia de se cantar em francês é provocar uma mudança no cenário da música brasileira”, afirma Pottier. Para ele não teria a menor graça cantar em francês na França, por exemplo, porque lá as bandas já cantam. “Seríamos mais uma dentre tantas”, afirma.

As canções do Les Responsables seguem um pouco o estilo de suas referências e nos transportam para a França da década de 60. Le Vaporisation tem uma pegada clássica, mas pode soar um tanto alternativo dependendo de quem ouve. Dentre os gêneros pelo qual a banda passeia no disco é possível ouvir um swamp rock com quebradas de jazz. Há uma mistura de ritmos mais sutil, focadas num rock, digamos “Cult”.

Sem clichês

Segundo Pottier, o desejo maior é mostrar a que a música francesa não se restringe a Piaf, Aznavour, Françoise Hardy e Daft Punk. “Nosso som é mais exótico, mais ousado, mas o objetivo é fazer essa música para que as pessoas tenham um contato maior com a língua, sem cair na mesmice das bandas francesas mais clichês”, diz.

O grupo emplacou uma música na primeira e segunda temporadas da série 9mm, exibida no Brasil pela Fox. Depois disso, gravaram o primeiro videoclipe Te Revoir, que assume uma estética trash, com um ar cômico que satiriza os chavões do cinema.

Entre as músicas brasileiras que despertam o interesse de Pottier estão coisas que não tem muito a ver com rock. “De forma geral, do Brasil eu gosto muito de Elis Regina, esses sons que tem um quê de ‘cartão-postal’ para o país. Gosto bastante de samba-rock e bandas que são menos conhecidas pelo público geral como “Ultramen” que mistura funk, hip-hop e dub. Além disso, aqui vocês tiveram ‘Mutantes’ que fizeram um som brasileiro tocado em todas as partes do mundo e que eu ouvi muito”, destaca.

Agora Les Responsables seguem com uma agenda de apresentações em casas noturnas de São Paulo, cidade na qual pretendem fixar residência em alguns meses. “Culturalmente São Paulo é a capital do Brasil, se pretendemos que nossa música atinja o público esperado precisamos estar por aqui”, conclui o vocalista.