“Não queremos carregar cadáveres se não há mais lugares para que eles aconteçam com vida”. A frase elucida o espírito da companhia Les Commediens Tropicales ao olhar para suas próprias montagens criadas ao longo de dez anos, como explica o ator e dramaturgo Carlos Canhameiro. “O que a gente fez foi revisitar o repertório uma última vez e jogar boa parte das peças fora. Foi muito bom.”

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O derradeiro ponto de contato se faz a partir desta quinta, 7, em Mauser de Garagem, concebida como parte integrante de Guerra sem Batalha ou Agora e por um Tempo Muito Longo Não Haverá Mais Vencedores Neste Mundo Apenas Vencidos, ambos os textos do alemão Heiner Muller. O conjunto perpassa a vida do homem que viveu entre duas ditaduras e reflete sobre os conflitos do indivíduo confrontados com o coletivo. “Ele é realmente um dramaturgo que nos influencia há algum tempo, tanto do fazer teatral quanto do que queremos dizer”, explica.

E o trabalho de remontar um repertório de sete peças nos últimos quatro meses serviu justamente para perceber as conexões entre os trabalhos. O espetáculo de intervenção, por exemplo, de 2011, propõe um diálogo com a arte urbana do artista britânico Banksy e deu a tônica do clima de Guerra Sem Batalha, como identifica Canhameiro. “Assim como na intervenção, temos uma peça mais voltada aos acontecimentos cênicos do que disposta a contar ou narrar uma história”.

Chamada de “pequena pérola” pelo dramaturgo, a intervenção urbana está entre as peças mais montadas do repertório da companhia. Nesta última temporada, o espetáculo ocupou locais como a Avenida Paulista e o Largo da Batata. “É uma obra que não tem uma palavra dita e está dentro de uma visão de teatro que é muitas vezes mais potente que o discurso de uma peça falada”.

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E a própria política de circulação de espetáculos em São Paulo é considerada como o grande dilema do grupo pelo dramaturgo. Ele afirma que apesar de existir uma produção profícua, a cidade peca por não criar oportunidades para que as montagens entrem em cartaz em diferentes espaços. “Temos peças que circularam com 100 apresentações e outras que morreram em 30, como O Pato Selvagem. É de uma certa crueldade”. Ele conta que tal cena influenciou na despedida definitiva do repertório. “Se não queremos nos desfazer dos trabalhos tão rapidamente, também não queremos ficar com eles guardados”.

E por se livrar dessa carga no ano passado que o grupo consegue alívio para vislumbrar novidades em 2016, o que inclui, no meio do ano, o lançamento de um disco com as canções originais de Guerra sem Batalha compostas pelo Quarteto à Deriva, parceria desde 2011.

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E em outubro, a primeira peça de Brecht servirá como provocação para o projeto Baal.material. “A obra dele ainda tem formas experimentais, além de ter um alto teor machista”, conta. “O que nos interessa é que quanto mais aberta ela é, mais a gente consegue expandir a nossa cena. Como foi em Muller, a leitura de Baal vai para esse mesmo lugar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.