Da Vinci deixou milhares de páginas de anotações, mas muitas delas se perderam. De vez em quando, novos rascunhos são encontrados, e entre eles estão os que deram origem a Os Cadernos de Cozinha de Leonardo da Vinci (Editora Record, 126 páginas). Além de receitas e dicas de pratos e utensílios atribuídos ao artista, que também foi (ora essa!) banqueteiro na corte de Milão, o livro informa como era a mesa no seu tempo.
Dotado de inigualável talento e de capacidade inventiva, Da Vinci tinha um lado bem menos conhecido, mas interessante e curioso, o de chef de cozinha e inventor de utensílios culinários. Ele trabalhou como cozinheiro em alguns restaurantes de Florença e foi sócio de Boticelli em uma cantina.
Os Cadernos de Cozinha… recupera os apontamentos que teriam sido escritos durante sua estada no palácio de um de seus mecenas, Ludovico Sforza. Embora a autenticidade do texto seja controversa, muitos indícios reforçam a hipótese de sua veracidade. Conhecido como Codex Romanoff, esse texto passou por muitas mãos até ser redescoberto em 1981, acompanhado do seguinte cabeçalho: “Este trabalho, que é uma cópia que eu, Pasquale Pisapia, realizei a partir do manuscrito de Leonardo da Vinci que se encontra no Museu Hermitage de Leningrado”.
Não obstante o museu negar sua existência, especialistas encontram nos manuscritos a natureza e estilo de escrita típicos de Leonardo, que realmente desempenhou o papel de mestre de festas e banquetes daquela corte durante algum tempo. Sua ironia e sentido de humor, assim como ortografia e gramática peculiares, são reconhecidas ao longo dos cadernos.
Foram compiladas receitas culinárias, com a inclusão de comentários sobre a preparação dos pratos. Apesar de muitas receitas serem destinadas a banquetes, saindo, assim, do alcance da cozinha doméstica, o leitor encontrará uma grande quantidade de pratos de fácil preparo, como, entre outros, o caldo de grão-de-bico e a chuleta. Nos escritos é possível verificar o interesse de Da Vinci pela comida vegetariana. Além disso, há um parágrafo dedicado aos venenos e a seu uso “correto”.
Na parte dos inventos culinários, uma curiosidade: foi Leonardo quem acrescentou o terceiro dente aos garfos, o que ajudava os comensais a saborearem outra de suas invenções, o spaghetti. Por fim, sua paixão pela gastronomia está associada à sua arte. Basta reparar um dos seus quadros mais famosos, A Última Ceia, no qual ele deu mais importância à pintura dos alimentos do que aos retratos dos apóstolos.