A sonoridade é forte, pulsante. O uso de sintetizadores dá às melodias um toque levemente “futurista”. Algo de místico está presente em boa parte das letras. E a intenção era chegar a um resultado que ele classifica como “pop intergaláctico”. Tudo parece uma viagem. E é. O novo CD do cantor e compositor Leo Cavalcanti nos leva para outro lugar – curiosamente, refletindo sobre sentimentos bem reais, humanos.

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O título, Despertador, combina com sua temática existencialista. “Esse movimento de rompante, de desabrochar, permeia o disco inteiro. Ele é celebrativo, acolhedor, amoroso”, disse o artista durante encontro com o jornal O Estado de S.Paulo, no estúdio em que o álbum foi produzido.

Este é o segundo trabalho da carreira de Leo, iniciada oficialmente com um show de 2007 em que mostrou, pela primeira vez, seu repertório autoral. Mas a ligação com a música veio bem antes disso – aos 8 anos, ganhou o primeiro violão do pai, o também músico Péricles Cavalcanti; e, na adolescência, já compunha e se apresentava em bandas tocando percussão.

Para o artista, que acaba de completar 30 anos, fazer canções têm função terapêutica. “Compor sempre foi uma necessidade; é um momento em que preciso elaborar algo dentro de mim. Acredito na música como uma ferramenta potente de meditação, para poder se aprofundar em certas questões.”

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A partir de reflexões tão pessoais, Leo alcança temas universais. É o caso da faixa Inversão do Mal, em que anuncia: “A era da vítima alcançou seu limite/ A verdade íntima ainda existe e resiste”. No caso, a inversão citada no título seria possível pelo autoconhecimento. “É sair dessa posição em que a gente se vê escravo das circunstâncias e se apropriar das nossas reais responsabilidades”, analisa. “São as nossas sombras que oferecem as nossas saídas, que revelam os nossos desafios.”

Referências à necessidade de se sentir parte do mundo também são recorrentes nas letras. É o caso de Sua Decisão, composta em parceria com o guitarrista Guilherme Held. “Acho que, nesta era atual, isso está muito grave – a gente se sente muito sozinho, e, ao mesmo tempo, tem 7 bilhões de pessoas no mundo”, reflete. Na gravação, Leo está bem acompanhado. Um coro formado por 11 cantores/amigos, entre eles Tulipa Ruiz e Pélico, entoa o que ele chama de mantra: “Ser feliz e contente, sem se conter”.

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Outra parceria do disco é O Momento, poema que Leo ganhou de Carlos Rennó em seu aniversário de 28 anos – “um dos melhores presentes que já ganhei na vida”, confessa. Nos versos musicados, o orgasmo é colocado como uma experiência transcendental: “A eternidade, então, num lapso encapsula/ E a divisão entre você e o outro é nula”.

Diferentemente de seu disco de estreia, Religar, que levou meses para ficar pronto, a maioria das músicas do novo álbum, produzido em parceria com Fabio Pinczowski, foi gravada em apenas três dias, em um sítio. “Até chegar lá, eu não sabia bem o que queria; e eu queria não saber. Queria ficar mais solto para que o próprio processo revelasse o caminho”, conta.

Dessa convivência com os músicos que participaram do trabalho, surgiram reviravoltas como na canção Tudo Tem Seu Lugar. Originalmente criada em ritmo de samba, ela ganhou ares indianos, com a guitarra de Guilherme Held fazendo lembrar uma cítara.

Outro desses acasos foi a incorporação da canção Get a Heart ao repertório. Única das dez faixas do álbum composta em inglês, foi feita sob encomenda para uma campanha publicitária de moda. Não era uma música levada a sério por Leo. Mas ele gostou tanto do resultado que ela não só entrou no CD como também ganhou um videoclipe – ao qual o Estado teve acesso em primeira mão.

No vídeo, o artista caminha pelas ruas de Berlim com “uma maquiagem meio andrógina e um casaco de marinheiro do século 18”. Muda o idioma, mas não muda o tom existencial das letras. Um dos trechos nos convida: “Break all your walls inside” (algo como “derrube todos os seus muros internos”).

Despertador chega às lojas ainda este mês, mas já está disponível para download grátis pelo site do cantor (www.leocavalcanti.com.br) até 19 de abril – data em que ele faz show de lançamento no Sesc Pompeia. A apresentação será na Choperia da unidade – com o público de pé, o que combina bem com o clima dançante do disco.

O artista, performático, até optou por tocar menos violão e, assim, ficar mais livre para cantar e dançar. “Às vezes, eu me sinto mais confortável no palco do que no resto da vida.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.