Lembrando Balthazar

Afinal, Balthazar Carrasco dos Reis seria de ascendência espanhola ou portuguesa?

O que se pode afirmar com absoluta convicção é que seus ascendentes vieram da Península Ibérica.

Seu pai, Miguel Garcia Carrasco participou de movimentos na Capitania de São Vicente, que indicam sua ascendência espanhola. Assim, manifesto juntamente com fidalgos castelhanos aclamando como rei do Brasil Amador Bueno da Ribeira. No entanto, vendo frustrado esse intento, participou de sessão solene na Câmara de São Paulo, aclamando Dom João IV como soberano absoluto de Portugal e seus domínios.

O nome de Miguel Garcia Carrasco é constante no século XVII, na história da Vila de São Paulo de Piratininga. Foi fazendeiro, bandeirante e atuou também na Área Legislativa como procurador do Conselho junto à Câmara Municipal da Vila de São Paulo.

O seu primogênito Balthazar Carrasco dos Reis seguiu-lhe os passos. Vejam: -pelo nome também se evidencia a ascendência espanhola. Seguido ao pré-nome Balthazar, vem o Carrasco, sobrenome do pai. Como é costume espanhol, Balthazar muito cedo começou a participar de bandeiras. Embora tenha sido nomeado juiz de órfãos, foi integrando a bandeira de Antônio Domingues em 1648, que pela primeira vez passou por estas terras e tudo indica que por ela se apaixonou. Conseguiu sesmaria na Região do Barigüi em 1661, concedida diretamente pelo então governador-geral Salvador de Sá e Benevides. Aqui instalou seu filho mais velho Gaspar. Balthazar no entanto, teve que permanecer em São Paulo exercendo o cargo de juiz de órfãos até, comprovadamente, 1675. O que explica seu nome não constar na Ata do Levantamento do Pelourinho, da Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, em 1668. Os nomes de seus filhos, no entanto, ali estão comprovando presença: Gaspar Carrasco dos Reis e André Fernandes dos Reis.

O que se pode provar é que foi o primeiro homem euro-brasileiro a se instalar em Curitiba trazendo sua família. Casou apenas uma vez. Sua esposa era Isabel Antunes da Silva Preto, tataraneta de Antônio Preto, o fidalgo português que chegou ao Brasil quando Mem de Sá expulsava os franceses do Rio de Janeiro. Tiveram 8 filhos: 3 homens e 5 mulheres. Alguns de seus filhos casaram com filhos de Mateus Leme, alguns de seus netos casaram, com netos de Gabriel de Lara.

Estudando a vida deste homem reavaliamos nosso conceito sobre a escravidão indígena no Brasil. Questionamos hoje o julgamento que sentencia o bandeirante como algoz do índio “escravizado”. Pensamos que o europeu trouxe ao nativo um novo modelo de vida e também sofreu dele influências culturais. Existiram conflitos? Muitos! Quem ganhou e quem perdeu? A humanidade ganhou se considerarmos as conquistas tecnológicas como um ganho. No caso de Balthazar Carrasco dos Reis, seu papel de “protetor” do índio é evidente quando se constata julgar ser responsabilidade sua e dever apostólico “trazer o índio para o seio da Igreja e da civilização.

Foi um homem religioso. Montou na Igreja Matriz da Vila um altar a Nossa Senhora de Guadalupe. Igreja Matriz da Vila, assim já era chamada, embora Nossa Senhora da Luz dos Pinhais não passasse de um povoado. Sob este altar de Nossa Senhora de Guadalupe Balthazar pede, em seu testemunho, para ser enterrado junto a sua esposa Isabel. E isto se concretiza em 8 de outubro de 1697.

Nesta terra amou, viveu e tornou-se semente. A semente que germinou Curitiba. Por que falar disso agora? Porque estamos no mês de outubro. Porque faz 307 anos. Porque pelo menos um por cento da população curitibana descende dele. E porque esta é a nossa história.

Teresa Teixeira de Britto

é membro do Centro de Letras do Paraná, do Centro Paranaense Feminino de Cultura e da Academia de Letras José de Alencar.

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