Lembranças de uma antiga profissão

No primeiro andar de um prédio em uma das ruas mais movimentadas de Curitiba, a Cândido Lopes, funciona a Alfaiataria Arte, cujo proprietário é o Casimiro Niendziela, de 69 anos. Ele, juntamente com outros cerca de 60 colegas de profissão que ainda existem na cidade, mantém o tradicionalismo, o detalhismo e o profissionalismo de um ofício que vem se perdendo no tempo. Havia uma época em que homens e mulheres faziam suas roupas clássicas somente nestes estabelecimentos. Hoje, a profissão corre o risco de se extinguir pois, diante de tanta concorrência no comércio, não é nada fácil se manter firme e forte como alfaiate. Mas parte dessa história está sendo lembrada em uma exposição de fotos no Memorial de Curitiba e em um livro que está sendo produzido por um grupo de pesquisadores.

As antropólogas Valéria Oliveira Santos e Dayana Zdebsky de Cordova, o historiador Fabiano Stoiev e o fotógrafo João Carlos Castelo Branco decidiram reunir os costumes, pensamentos e emoções deste grupo de profissionais. Emoções que, apesar das dificuldades, ainda são mantidas por eles. ?Faz mais de 50 anos que trabalho como alfaiate e não me arrependo, faria tudo de novo. A melhor roupa é aquela feita sob medida, só de bater o olho já sei se tal roupa foi feita em uma alfaiataria?, orgulha-se o alfaiate Niendziela. Ele lamenta que o movimento tenha caído bastante de dez anos para cá. Antes ele tinha seis companheiros de trabalho, hoje possui somente dois.

Niendziela conta que em 1981 participou do 12º Congresso Nacional de Alfaiates, quando já se discutia a crise no setor. ?Naquela época éramos fortes e foi discutido que se a indústria de tecidos não se unisse com a gente, a profissão iria acabar em 20 anos. Acho que faltou divulgação de que a roupa feita sob medida é a melhor. O freguês vem aqui, não importa se é alto, gordo ou magro, sempre sai com a roupa certinha no corpo?, diz.

O trabalho dos pesquisadores é financiado pelo Fundo Municipal da Cultura da Prefeitura de Curitiba, por meio do edital Identificação e Registro do Patrimônio Imaterial, lançado em 2007. O livro deve ficar pronto em maio. O grupo passou nove meses conversando com cerca de 40 alfaiates. Letícia disse que se surpreendeu com a demanda que ainda existe – os alfaiates têm bastante clientela – e lamentou que o ofício possa se extinguir. Segundo ela, um dos fatores que pode levar a isso é que os alfaiates não têm passado seus conhecimentos para as próximas gerações. ?Sem falar que o sistema deles é muito detalhado, difícil de ser ensinado. Eles têm toda a técnica de observação do corpo do cliente, da confecção da roupa. É um verdadeiro ritual para quem ainda vai ao alfaiate escolher um terno. Hoje há muito menos alfaiatarias do que há cerca de 20 anos, e muito mais do que eu imaginava?, comenta Valéria.

Ela contou que a idéia de pesquisar os alfaiates surgiu um dia em que passeava pelo centro de Curitiba, quando entrou em uma loja para ver um móvel e teve uma surpresa ao descobrir que se tratava de uma alfaiataria. ?Então surgiu a curiosidade de saber quem são eles e quem é o público que ainda freqüenta estes estabelecimentos?, disse. A maioria dos alfaiates está na faixa dos 60 anos, muitos atendem em casa e alguns fazem apenas reformas de roupas. Os alfaiates também fazem roupas para mulheres, mas a clientela maior é a masculina.

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