“Mestre” é a definição mais comum citada por artistas ao se referirem a Antunes Filho, que morreu na noite de quinta-feira, 2, aos 89 anos. Um dos principais encenadores do teatro brasileiro, ele inovou, a partir da década de 1980, ao propor uma nova atitude para renovar a arte de representar e pregar o primado do ator. “O ator tem de ser um artista e não um funcionário do palco”, dizia Antunes.

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Um dos grandes nomes da primeira geração de diretores que promoveram uma revolução cênica entre os anos 1960 e 70, Antunes entrou definitivamente para a história do teatro brasileiro ao criar uma obra com características dramatúrgicas e cênicas puramente autorais.

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“Éramos um grupo formado por Antunes, Flávio Rangel, Amir Haddad, Augusto Boal, eu”, comenta José Celso Martinez Corrêa, em vídeo divulgado pelo site do grupo Oficina. “Antunes começou fazendo montagens de textos americanos, o que fazia muito bem. Depois, enveredou para a pesquisa, quando passou a receber muitos jovens – ele formou muitas gerações, mais do que eu.” Zé Celso comenta que Antunes Filho teve a capacidade de fazer, na época, o que todos encenadores já ambicionavam. “Não digo brasileiro nacionalista, mas com encenadores do Brasil fazendo teatro no mesmo nível que se faz no mundo inteiro.”

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Alguns classificam seu teatro como apolíneo, pela disciplina e pela sobriedade; ele preferia comentar que sua obra é orgânica, decisivamente influenciada pela atualidade. Na verdade, sua trajetória coincidiu com as mais decisivas transformações dessa arte, nas últimas décadas. “Nossa geração formou-se em Antunes Filho, ou seja, vimos O Eterno Retorno, Macunaíma, Nelson 2 Rodrigues. Éramos alunos e partícipes daquele momento de ruptura, daquele instante de heresia, no qual os cânones do teatro brasileiro ruíram, para ele adentrar”, conta Gabriel Villela. “Ele foi um farol no meu caminho”, completa Paulo de Moraes, da Armazém Cia. de Teatro.

Entre suas principais virtudes cênicas, Antunes apontava a importância essencial da respiração no trabalho de atuação. Segundo ele dizia, todo estímulo provoca uma reação física distinta, o que acaba interferindo também na respiração, ato involuntário que permite ao artista atingir justamente o subconsciente. “É daí que aflora a interpretação correta”, comentava. “Quando o ator utiliza seu lado racional, ocorre o contrário: terá uma atuação estereotipada.”

A atriz Juliana Galdino tornou-se uma das principais intérpretes desse estilo de atuação, conciliando técnica com talento. “Para ele, a voz era o espelho da alma, não os olhos”, explica. “Uma espécie de convite para passarmos a enxergar com os ouvidos, assim como acontece com a música. Dessa forma, as imagens são criadas pelo coração. Tudo o que é importante entra pelos nossos ouvidos e vai direto ao coração – quando entra pelos ouvidos e vai direto para a cabeça é porque não era tão importante assim. Tudo, cada palavra dele, cada risada, cada berro ia direto ao coração de quem pode ouvir.”

Aos atores, aliás, Antunes Filho deixou lembranças poderosas e definitivas. “Ele foi o criador de algumas das minhas melhores memórias como espectador”, confessa Guilherme Weber. “Todo o rigor da cena, seus coros carnavalescos povoados de Lilian Gishs marmóreas, a brasilidade concreta, a originalidade e a profundidade de suas referências e preferências intelectuais, a física quântica, Kazuo Ohno, Greta Garbo e Carmen Miranda.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.