Leci Brandão, a cara (e a voz) do povo

Felizmente, não é preciso esperar o Carnaval para ouvir a aula de samba de Leci Brandão. Verdadeira embaixadora dos morros e comunidades cariocas desde o início dos anos 70, quando tornou-se a primeira mulher admitida na ala dos compositores da Mangueira, Leci ganhou notoriedade desde que passou a comentar na TV os desfiles das escolas de samba, primeiro no Rio e ultimamente em São Paulo. E é com esse status que ela acaba de lançar pela Indie Records o disco A Cara do Povo.

O nome não podia ser mais apropriado. Leci passeia com desenvoltura de Cartola e Elton Medeiros (Sofreguidão) a Afro Mandela (Negro Zumbi), esta assinada também pela própria Leci e a amiga Valdilene, lançada no CD Anjo da Guarda, de 1995, nos 300 anos de Zumbi. Resgata Jovelina Pérola Negra (Sangue Bom) – “por que não se ouve mais a Jovelina no rádio?” -, e relembra o alerta dado por ela em 1991 em O Dono e o Povo, sobre a complexa relação da população das favelas com o tráfico de drogas.

Ao lado de Marcelinho Arte e Paulinho Sampagode, saúda o parceiro de sempre, Beto Sem Braço, com Um Raro Prazer, ao mesmo tempo em que empresta sua autoridade para a bela Perdoa, de Xandy de Pilares e Helinho do Salgueiro. “Quis retribuir ao Grupo Revelação, que regravou Zé do Caroço num momento difícil”, comenta.

Gratidão

Na mesma linha da gratidão vem Sonho de Amor (Edu, Tom, Adeilton e Cleverson), uma forma de retribuir à receptividade que a sambista sempre encontra na Baixada Santista. E ainda encontra espaço para as românticas candidatas a hit Deixa Estar e Não Importa a Distância, assim como para a animada Natureza Esperança, do mestre dos sambas enredo da verde-e-rosa, Marcelo D?Aguiã, além de outros mergulhos no seu próprio repertório, como Ousadia do Olhar e Vai Ter que Aturar.

Batucada

Musicalmente, o disco não traz grandes novidades. Não tem grandes alterações de arranjos, nem qualquer tentativa de “modernizar” as composições. Nem precisa. Soa como uma gostosa batucada numa mesa de bar num sábado à tarde, regada a cerveja gelada e na companhia dos amigos. As canções são simples e diretas, com letras que falam basicamente de amor – com exceção de O Dono e o Povo e Negro Zumbi. “Não abro mão das minhas convicções sociais”, diz Leci. E saiu assim exatamente porque foi isso que o público e os amigos da sambista pediram: “Não tenho a pretensão de fazer alvoroço. Esse disco tem a marca do povo que me acompanha, que batalha para comprar o ingresso. E eles queriam que eu fizesse o enredo marcado pelo amor. Por isso é A Cara do Povo, que também é a minha cara”.

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