Leandro Karnal é um historiador que transita bem entre a academia e o grande público. Tem ampla formação acadêmica e é professor da Unicamp há 20 anos nas áreas de História Cultural e de História da América ao mesmo tempo em que viaja o País fazendo palestras para o grande público sobre assuntos que vão de atualidades a religião e ética, que comenta o noticiário no Jornal da Cultura e participa do Café Filosófico, transmitido pela TV.
É, também, autor de vários livros teóricos e para leigos, como Felicidade ou Morte (Papirus), que ele acaba de lançar com Clóvis de Barros Filho e que já ocupa a terceira posição na lista de mais vendidos da Veja.
Essa sua capacidade de falar sobre assuntos essenciais e profundos com erudição e leveza poderá ser comprovada a partir deste domingo, 24, no Caderno 2. Nesse dia, Karnal estreia sua coluna semanal e já adianta: quer tirar o leitor – e ele próprio – da zona de conforto.
“Pensando na temática das colunas, gosto da ideia que cruzem, naturalmente, uma formação de um historiador profissional e de um doutor em áreas de humanas com leituras em filosofia, antropologia e artes, e ainda minha formação musical. Gosto que exista uma reflexão sobre o conhecimento formal. Sempre com um toque de humor e com um certo distanciamento irônico”, conta.
Gaúcho de São Leopoldo, ele nasceu em 1963, filho de uma família de classe média e religiosa do interior gaúcho. A religião, hoje, é apenas um campo de estudo do historiador ateu que se formou na Unisinos e começou, ali mesmo, e também na rede estadual de ensino, sua carreira como professor. Aos 24, mudou-se para São Paulo. Seu doutorado na USP incluiu estudos também na França e no México. Vive há quase 30 anos na cidade, de onde sai, frequentemente, para conferências País afora.
“Ter estado semana passada em São Paulo, Brasília, Fortaleza, Marechal Rondon e em Porto Alegre marca muito a minha visão do Brasil, de como ele se entende e se explica, como os jovens reagem. Vejo demandas e concepções sociais. Essa é a minha grande semente para eu poder germinar esse canteiro de ideias”, afirma.
Entre os temas que mais despertam o interesse das plateias hoje, e sua discussão também estará nas colunas do historiador, ele cita a ética – e diz que isso o deixa otimista. “É uma esperança possível para este País.”
No artigo que será publicado no domingo, Karnal escreve sobre a dúvida em aceitar o convite do Estado, fala sobre vaidade, faz uma reflexão sobre a possibilidade de lidar com o grande público e sobre o peso de escrever para um veículo fundado em 1875. “Mas a vaidade falou mais alto que o medo. Aceitei também porque existe a possibilidade do exercício de dizer coisas significativas que levem as pessoas a pensar e que isso atinja muita gente. Estamos precisando, no Brasil de hoje, de polarização extremada, de gente que faça pensar, ouvir e interpretar – mais do que de gente que expresse sua opinião subjetiva e imediata.”
Essa é, aliás, uma das funções do intelectual de hoje. Um intelectual pop, que está nas redes sociais. “Cada vez mais vai surgindo nos Estados Unidos e na Europa, e mais recentemente no Brasil, a função daquelas pessoas ligadas à academia que começam a traduzir com metáforas, bom humor e leveza coisas que talvez fossem mais complexas ao grande público”, comenta.
Para ele, essas pessoas ajudam a mostrar que uma simples opinião não é suficiente para um debate, que ela é apenas uma emissão subjetiva que precisa de embasamento para fugir do senso comum e evitar falácias. “Esse é um exercício recente, num país que só há pouco descobriu a democracia, conheceu as redes sociais e ainda não descobriu, infelizmente, como ouvir opiniões contrárias e não tornar isso um discurso de ódio, uma adjetivação ou simples enunciação dos seus problemas, medos e anseios.”
A polêmica é sempre inevitável, diz Karnal. “Existe hoje uma enorme quantidade de gente ressentida e centrada no seu próprio afeto. Logo, tudo o que não for a defesa apaixonada daquela pessoa é considerado ponto de crítica. Basta eu dizer que dei palestra na Europa e já aparecem pessoas perguntando por que eu não fui à África. Se eu digo que fui à África, perguntam por que eu excluí a América Latina. Elas não estão dialogando comigo. Eu não tenho importância. Elas estão dialogando com a sua dor e seu ressentimento.”
A interpretação do texto é outra questão que preocupa o autor, e ele avalia que isso só piora com o passar dos anos e que as pessoas entendem o que querem entender do que está escrito. Aos leitores, então, Karnal pede interação e paciência. “E que, ao me criticarem, elogiarem, concordarem ou discordarem, que seja com base no que eu disse e não no que eu não disse. E que o fato de eu não ter dito algo não quer dizer que eu esteja condenando aquilo.”
Além da coluna que poderá ser lida aos domingos neste caderno e no Portal Estadão, Karnal também terá um blog.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.