A obra da cineasta suíça Léa Pool é quase sempre apontada como tendo a forte marca de buscar a identidade feminina. Seja em histórias que revelam o cotidiano de um colégio interno para garotas ou de uma jovem mãe que busca um último alento para o filho que está morrendo de câncer, seus filmes sempre trazem o olhar da mulher sobre um universo complexo e, ao mesmo tempo, delicado. “Não acho que seja uma questão de feminismo, no sentido político. Sou uma diretora, mulher, e, portanto, é natural que meus filmes falem do meu universo, dos problemas porque passam as mulheres”, comentou Léa ao Estado em sua passagem por São Paulo, onde esteve na semana passada para a abertura da mostra que o Centro Cultural Banco do Brasil dedica à sua obra que entra em cartaz sábado em Brasília e no dia 3 de abril no Rio.
É uma chance rara de assistir a 12 de seus principais filmes e entender melhor o universo por ela retratado em longas como A Dama do Hotel (que impressionou a crítica mundial em 1984), Assunto de Meninas (de 2001), A Borboleta Azul (2004), entre outros. “Questões masculinas também têm destaque nas histórias que dirigi, mas muitas vezes estão em foco sob o olhar de uma personagem feminina. Um diretor, por exemplo, quando faz um filme sobre um protagonista masculino, ninguém diz que ele é um diretor que trata da identidade masculina. É apenas um filme.”
Mesmo recusando o rótulo, Léa, que é radicada em Quebec, de fato busca sempre investigar as principais questões do universo feminino em sua obra. Seu mais recente trabalho, o ainda inédito Pink Ribbons, Inc. (Laços Rosas, Inc.), investiga o que há por trás das campanhas mundiais contra o câncer de mama. “Fazia tempo que não me dedicava ao documentário, formato que também gosto muito. O filme questiona e vai em busca do que é feito com a verba levantada nas ações beneficentes para o combate ao câncer de mama”, explica a diretora, que apresenta o filme no fim do mês em Londres. “Acho que será uma sessão polêmica, porque o filme levanta questões como o uso do dinheiro para as pesquisas contra a doença. Como não há um controle benfeito, muitos estudos se repetem, não chegam a conclusões, verbas não são bem aplicadas. Não questionamos o valor das campanhas, mas sim como são administrados os fundos depois”, continua. “Se o dinheiro for melhor aplicado, o avanço será mais efetivo, mais mulheres poderão ser tratadas. Aprendi muito ao fazer esse documentário.” As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
