Lautréamont, biografia romanceada

Cantos de outono, romance de estréia de Ruy Câmara em lançamento pela Record, é uma instigante biografia romanceada sobre o poeta francês do século XIX, Isidore Ducasse, o conde de Lautréamont. Ruy busca recompor o que foi o breve e turbulento périplo terrestre do autor dos Cantos de Maldoror. A não ser pelas poucas cartas que deixou — às quais Ruy Câmara exaustivamente recorreu, como lembra Ivan Junqueira na apresentação –, quase nada se sabe de concreto sobre a sua existência e mesmo sobre sua obra.

Lautréamont, uma das figuras mais misteriosas da poesia francesa de meados do século XIX, efetivamente deixou poucos registros de sua existência além de seus livros. O poeta pernambucano Ruy Câmara mesmo assim redige uma biografia de 400 páginas, mostrando seu profundo conhecimento da obra e do mundo do conde para reconstituir, ou reinventar, sua vida e o cotidiano europeu da época.

Cantos de outono acompanha a saga de Isidore desde os dois anos, quando testemunha o suicídio de Célestine, sua mãe, na noite de Natal de 1846. Aos 13 anos, devido às epidemias e às revoluções que se multiplicavam na Europa, o menino é empurrado num navio pelo cônsul François Ducasse, seu pai, rumo ao sul da França. Lá, Isidore sofre terríveis crises de angústias e os rigores dos pedófilos nas prisões escolares de Tarbes e Pau. Aos 18 anos, tendo em mãos um bacharelado e alguns Cantos inacabados, adota para si o pseudônimo Lautréamont e vai aventurar-se no mundo das letras em Paris e Bruxelas.

Rejeitado pelos editores, o jovem poeta, precursor do surrealismo e discípulo de Baudelaire, abandona os estudos formais e passa a viver às margens das regras sociais, às expensas do pai. O dândi precoce foi contemporâneo de Verlaine e Marllamé.

Em 1870, estoura a guerra franco-prussiana e o império de Luis Napoleão tomba aos pés de Bismarck. A decadência leva seu tutor à bancarrota, o que arrassa as finanças do cônsul François Ducasse, deixando-o praticamente falido. Aos 24 anos, sem ter como se sustentar e deprimido com a carnificina que avoluma os cadáveres nas ruas de Paris, o jovem poeta ingere um coquetel mortífero e entoa seu Canto derradeiro.

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