Já é tradição. Todos os anos, o Porto Alegre em Cena – festival de teatro da capital gaúcha – elege alguns dos grandes nomes da cena internacional para coroar sua programação. Em sua 17.ª edição não foi diferente. Os espetáculos de Peter Brook e do lituano Eimuntas Nekrosius – dois dos maiores diretores em atividade hoje no mundo – cumpriram essa função e brilharam na grade da mostra, que começou dia 8 e se estende até segunda.
Mas não é apenas com grifes que Luciano Alabarse, coordenador-geral do festival, montou a seleção deste POA em Cena. É justamente nos países vizinhos – Uruguai e Argentina – que ele encontrou a representação mais numerosa de sua seleta internacional. A eleição de cinco montagens portenhas e cinco uruguaias dá sinais de que Porto Alegre se mantém firme em seu propósito de dialogar com a América Latina. No geral, o festival cumpriu a função de trazer ao País boas peças que raramente cruzam a fronteira.
Foi o caso de “Los Padres Terribles”, saudada como uma das melhores encenações de Montevidéu no ano passado, e de “Por Tu Padre”, versão argentina para o texto de Dib Carneiro Neto, editor do Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo. No Brasil, onde foi montada como “Adivinhe Quem Vem para Rezar”, em 2005, a peça teve Paulo Autran desdobrando-se em três personagens. Nesta adaptação vinda de Buenos Aires, quem ocupa esse posto é o veterano Federico Luppi, que se revelou como o maior acerto da versão dirigida por Miguel Cavia.
Na ala nacional, a curadoria também se manteve coerente em sua proposta de apresentar um panorama que extrapole o eixo Rio-São Paulo, convocando trabalhos do Nordeste, de Minas e do Paraná. Quem chamou a atenção, no entanto, foi a delegação carioca, que apresentou duas competentes leituras de textos contemporâneos franceses: “A Inquietude”, de Valère Novarina, e “A Solidão nos Campos de Algodão”, de Bernard-Marie Koltès, que surgiu em provocativa montagem de Caco Ciocler.
Desconhecido das plateias brasileiras, o lituano Eimuntas Nekrosius é velho conhecido do público de Porto Alegre, que já tem o hábito de esperar com ansiedade por suas criações. Neste ano, surpreendeu sua grandiloquente transposição do romance de Dostoiévski, “O Idiota”. Pontuado por imagens de grande carga simbólica, o espetáculo soube atravessar as passagens folhetinescas da história sem escamotear seus embates filosóficos. Os atores também conseguiram dosar a força do texto com um preciso trabalho físico, transferindo para o corpo muitas das intenções que não ousam ser verbalizadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Programação
Dias 22 e 23, às 19 h. “Los Caballos”. Espetáculo do Uruguai, com direção de Ernesto Clavijo, sobre a busca de um cavalo para levar uma menina ao hospital.
Dias 22 e 23, às 22 h. “Cuestión de Principios”. Montagem uruguaia, de Patrícia Yosi, que trata da problemática relação entre pai e filha.
Dias 24, 25 e 26, às 20 h. “Electra”. Peça uruguaia, da dramaturga Marisa Betancur, baseada na tragédia de Sófocles.
Dias 24, 25 e 26, às 18 h. “In on It”. Montagem carioca do diretor Enrique Diaz, é uma encenação do texto do canadense Daniel MacIvor.
Dias 24, 25 e 26, às 22 h. “Final de Partida”. Da Venezuela, o diretor Héctor Manrique traz essa versão para o texto de Samuel Beckett.
Dia 26, às 21 h. “Último Tango em Berlim”. A cantora alemã Ute Lemper faz um show em que mescla tangos e canções de cabaré.