Um dos clássicos dos anos 60s, Laranja Mecânica, de Anthony Burgess, está de volta. Tanto o livro como o filme fizeram a cabeça da geração da contracultura e do sexo, drogas e rock and roll. Trata-se de uma história bastante atual, onde o protagonista, Alex, é o líder de uma gangue futurista adolescente que pratica ultraviolência pelas ruas de uma Londres decadente, cujos habitantes têm medo de sair à noite e preferem se distrair com programas de televisão no (relativo) conforto de seus lares. Ops. Não lembra alguma coisa que aconteceu nas ruas da capital São Paulo decadente nos últimos dias?
A trama do livro de Burguess é ótima. Ao cometer um assassinato involuntário, Alex vai preso. Para que possa ser libertado, aceita participar como cobaia de uma experiência de engenharia social desenvolvida para eliminar tendências criminosas. Uma experiência tão dolorosa e desumana quanto a ultraviolência que ele próprio costumava praticar.
Esta perturbadora história se passa em uma sociedade futurista em que a violência atinge proporções gigantescas. Uma época em que gangues de jovens aterrorizam todos a quem encontram pela frente, espancando, estuprando ou matando por simples prazer, o que provoca uma resposta igualmente agressiva de um governo quase totalitário.
Essa maneira de falar pessoal de Alex, talvez um dos maiores atrativos do livro, foi batizada por Burgess de linguagem nadsat (uma mistura de corruptelas de palavras russas mescladas com o inglês, do modo de falar da classe operária britânica e uma pitada do linguajar pseudo-elizabetano). Essa gíria de gangues adolescentes que Burgess criou provoca no leitor, pelo menos nas primeiras páginas, uma certa desorientação, que para o autor era fundamental.
Nas palavras do escritor William Burroughs (que era fã de Burgess): “Não conheço nenhum outro escritor que fez tanto com a língua (…) um livro muito divertido”.
Esta nova direção ainda conta com um prefácio, escrito pelo tradutor Fábio Fernandes; uma nota sobre a nova tradução brasileira (destacando as dificuldades e soluções encontradas no processo de tradução, que durou cerca de nove meses) e um glossário dos termos nadsat.
Laranja mecânica – de Anthony Burgess, tradução de Fábio Fernandes, 224 páginas, Editora Aleph.