Laowai – histórias de uma repórter brasileira na China

Nos dois anos em que viveu na China como correspondente internacional da Globo, Sonia Bridi não passou despercebida pelas ruas. Com seus traços bem ocidentais e olhos verdes, chamava a atenção das criancinhas nas ruas que gritavam para ela ?laowai, laowai? – que significa estrangeiro em palavra chinesa. E um país com cultura e costumes tão diferentes dos nossos também não passaria despercebido sob os olhares da jornalista. Para contar sua experiência profissional e pessoal, Sonia acaba de lançar Laowai – histórias de uma repórter brasileira na China. ?É um lugar que guarda muitos mistérios. Me perguntam sobre tudo que vivi e acho que o pouco que consegui compreender eu tinha de registrar?, diz a jornalista.

Nas 384 páginas ilustradas por várias fotos feitas pelo marido de Sonia, o cinegrafista Paulo Zero, o livro da editora Letras Brasileiras registra momentos felizes e frustrantes. A jornalista não hesita em contar que a maior alegria em todo esse período que viveu na China era conseguir produzir e enviar as matérias para o Brasil. A burocracia do país atrapalhava bastante. ?Foi muito duro negociar por 10 meses uma matéria em uma mina, chegar lá e não ter ninguém para falar com você?, relembra Sonia.

Na busca pela pauta, a jornalista conta também que cometeu uma de suas maiores gafes. ?Pressionei um chinês publicamente até que ele me disse não, com vergonha. E deixar um chinês envergonhado é a pior coisa que alguém pode fazer?, explica.

Junto com Paulo Zero, Sonia formou a primeira equipe da Globo a montar uma base de jornalismo na China. Apesar da rotina pesada para desenvolver matérias, os momentos com a família também são guardados com carinho e registrados no livro. O filho do casal, Pedro, tinha apenas 3 anos quando eles toparam a empreitada de se aventurar em terras orientais e desconhecidas. ?Avaliar a rotina do meu filho lá também foi complicado. Mas descobri muito para as minhas pautas indo atrás das necessidades dele?, avalia Sonia.

O garoto chegou a aprender bem o mandarim. Sonia, nem tanto. Ela contou com a ajuda de uma intérprete para os trabalhos mas, para o dia-a-dia, sobreviveu com a decoreba. ?Decorei como se falava o endereço de casa, como se pedia água ou duas cervejinhas?, conta ela aos risos.

Apesar de tantas diferenças, a jornalista enfatiza que China e Brasil têm mais em comum do que muitos ousam imaginar. Os chineses são alegres, gostam de se reunir com os amigos ou jantar em família. E também são curiosos. ?Paravam para ver a gente trabalhando. Eles são tão ignorantes em relação a nós quanto somos em relação a eles?, compara.

Sonia deixa claro que jamais pensou em fazer um livro sobre a sociedade chinesa, seu regime político ou sua economia. ?É apenas o relato de uma família e de repórteres que viveram lá?, resume. Ela diz ainda que espera que o livro chame a atenção das pessoas para o fato de que a China vai muito além do país pitoresco com culinária estranha. ?Eles têm hábitos saudáveis, vivem um crescimento estrondoso e devemos prestar atenção nisso?, defende a jornalista.

Trabalhando atualmente como correspondente internacional da Globo em Paris, Sonia integra a equipe da emissora que vai cobrir as Olimpíadas de Pequim. Depois de viver em meio a um imenso canteiro de obras, a repórter está ansiosa para ver tudo pronto e espera que os Jogos dêem muito certo. ?O sucesso das Olimpíadas pode levar a uma abertura do país. Já o fracasso pode fazer com que eles se fechem ainda mais?, avalia Sonia.

Laowai – histórias de uma repórter brasileira na China – Editora Letras Brasileiras, R$ 39,90.

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