Para muitos torcedores, os jornalistas esportivos da televisão têm a melhor profissão do mundo. De quatro em quatro anos, eles não só podem ir à Copa do Mundo com tudo pago como ainda recebem pelo trabalho. Entre uma partida e outra, locutores, repórteres e comentaristas deixam seus afazeres de lado e torcem pela Seleção Brasileira como qualquer brasileiro. Cada um deles tem, inclusive, seu lance preferido: um gol de placa, um drible desconcertante ou uma partida inesquecível.
O locutor Galvão Bueno costuma dizer que o gol mais emocionante que já narrou não entrou. A bola que o atacante italiano Roberto Baggio chutou para fora e deu ao Brasil o tetracampeonato. Companheiro de Galvão há quatro Copas, Arnaldo Cezar Coelho também não esquece da angustiante disputa de pênaltis entre Brasil e Itália na final da Copa de 1994, nos Estados Unidos. “Quando o Baggio bateu para fora, não consegui me controlar e dei uma gravata no Galvão. A voz dele nem saía direito”, diverte-se.
Tão emocionante quanto gritar “é campeão!” só mesmo apitar uma final de Copa do Mundo. E Arnaldo Cezar Coelho foi o árbitro da decisão entre Itália e Alemanha em 82, na Espanha. Naquela Copa, a Seleção Brasileira não passou da segunda fase ao perder para a Itália por 3 a 2. Este, aliás, foi o jogo mais emocionante das carreiras de Luciano do Valle, Jorge Kajuru e Falcão. O primeiro, inclusive, era o narrador da partida, que segundo ele alcançou memoráveis 90 pontos no Ibope. “Aquele jogo teria dado essa audiência mesmo se não tivesse ninguém narrando”, acredita Luciano.
Choro
Jorge Kajuru foi um dos milhões de torcedores que acompanharam pela tevê o sofrimento verde-e-amarelo no Estádio Sarriá, na Espanha. “Cheguei a chorar quando o Sócrates marcou o primeiro gol contra a Azurra. Chorei que nem bebê”, enfatiza o comentarista da Rede TV!. O atual comentarista da Globo, Paulo Roberto Falcão, era um dos onze jogadores em campo naquele fatídico 5 de julho de 1982. A seleção brasileira perdia de 2 a 1 quando Falcão aproveitou um passe de Toninho Cerezo e empatou. “O chute foi de raiva. Aquele era o gol da classificação”, suspira Falcão. Seis minutos depois, porém, o “carrasco” Paolo Rossi fez seu terceiro gol na partida e mandou o Brasil para casa mais cedo.
Só alegria
Mas felizmente nem só de recordações tristes vivem os comentaristas esportivos. A Copa de 70, por exemplo, traz ótimas lembranças. Juarez Soares, da Rede TV!, enaltece o segundo gol do Brasil contra o Uruguai na semifinal. “Quando o Clodoaldo fez o gol, tive nítida impressão de que seríamos campeões do mundo”, garante. O meio-campo do Brasil também é lembrado por Juca Kfouri como o autor do lance mais bonito de todas as Copas. “O quarto gol do Brasil contra a Itália é memorável. Desde a hora que o Clodoaldo pega a bola e dribla um bando de italianos até a conclusão do Carlos Alberto”, descreve.
Como não poderia deixar de ser, Pelé também é enaltecido na relação dos lances inesquecíveis de todas as Copas. Para o comentarista Sérgio Noronha, o “drible de vaca” que o Atleta do Século deu no goleiro uruguaio Mazurkiewicz foi simplesmente genial. “Poucas vezes vi um lance tão bonito. Aquele drible deveria valer como um gol”, brinca.
Decepção
O locutor Cléber Machado não teve a oportunidade de ver as “feras do Saldanha” em ação. “Era muito moleque…”, lamenta. Como profissional, ele cita a semifinal entre França e Croácia na Copa de 1998 como a partida mais emocionante que já narrou. “O estádio inteirinho se levantou para cantar o hino nacional após a vitória de 2 a 1. Foi difícil segurar a emoção”, recorda.
Dias depois, o então locutor do SBT, Sílvio Luiz, também não conseguiu segurar a emoção ao receber a planilha com a escalação do Brasil para a final contra a França. “Ronaldinho não estava nem no banco”, observa. Pouco depois, a apreensão se transformava em tristeza com a derrota do Brasil por 3 a 0 para os donos da casa. “Tinha certeza que o Brasil ia faturar aquela Copa”, suspira Sílvio Luiz, com o grito de “é campeão!” ainda engasgado.
Nos bastidores dos furos
Armando Nogueira é o mais experiente comentarista esportivo da tevê brasileira. A Copa do Mundo do Japão e da Coréia é a 13ª da carreira do comentarista da Sportv. A primeira delas foi a de 54, na Suíça. Na época, Armando trabalhava no “Diário Carioca” e conseguiu um furo depois da derrota do Brasil para a Hungria por 4 a 2. “Enfiei minha rolleyflex pelo basculante do vestiário e flagrei o técnico dando uma chuteirada num ministro húngaro”, orgulha-se.
A primeira Copa do Mundo ninguém esquece. O repórter Régis Rösing que o diga. Escalado para cobrir a Copa de 98, na França, ele se orgulha de, pelo menos, dois grandes furos: quando levou a chuteira com que Romário jogou a final de 94 para o craque na França e quando entrou escondido, no porta-malas de um carro, na casa de Ronaldinho. “Fiquei quase 30 minutos dentro do porta-malas, mas valeu a pena. Cheguei até a almoçar com ele”, valoriza.
Marcas que não se apagam
# Quando o Brasil perdeu o jogo para a Itália em 82, Cléber Machado não se conteve. O futuro locutor da Globo se trancou no banheiro de casa e deu um “bico” raivoso na parede.
# Para Jorge Kajuru, um dos gols mais bonitos de todas as Copas foi o de Maradona na Copa de 1986: ele driblou cinco ingleses antes de marcar.
# O então repórter da Rádio Nacional, Juarez Soares, quase brigou com repórteres uruguaios no estádio de Guadalajara, no México, em 70. O ex-jogador Leônidas da Silva, o Diamante Negro, era comentarista da rádio.
# Juca Kfouri elege a Copa de 58, na Suécia, como a melhor de todas. E por um motivo simples: foi a única a reunir Pelé e Garrincha.
# O repórter Sílvio Luiz foi o único a entrevistar a seleção brasileira campeã do mundo de 58, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.