Talvez não exista sentimento mais doloroso que o da vergonha. Foi ele que Ingmar Bergman resolveu investigar no filme que leva justamente esse nome – e está agora sendo lançado pela Versátil. Este filme é conhecido como aquele no qual Bergman coloca seus personagens contra o pano de fundo de uma situação terminal – a Segunda Guerra Mundial.

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O casal formado por Liv Ullman e Max von Sydow para fugir da guerra instalam-se numa ilha isolada. “Vergonha” foi realizado na Ilha de Farö, onde Bergman viveu boa parte de sua vida e onde veio a morrer, muitos anos depois do término deste filme, datado de 1968.

A história é ilustração daquela famosa tese de Trotski, segundo a qual as pessoas não precisam se interessar pela guerra porque a guerra irá se interessar por elas. É o caso de Jan e Eva, que são mostrados num primeiro momento de intimidade, mas com as coisas não andando nada bem entre eles. Não se sabe exatamente por que, mas algo não vai bem com o casal.

Jan é um músico e parece hipersensível, o que incomoda a mulher. Ela lhe diz que não tolera aquele excesso de emotividade. Mas, a esses conflitos pessoais outros virão se somar e bem mais graves, quando soldados começam a aparecer pelas redondezas.

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Esse ambiente opressivo conduz os personagens ao mais doloroso encontro consigo mesmos. Sem qualquer alívio, como costuma acontecer com Bergman. O rosto coberto pela vergonha também serve para disfarçar o pavor, e o desalento.

O filme leva a data de 1968, mas foi pensado e escrito antes que a Primavera de Praga fosse esmagada pelos tanques soviéticos e que a Guerra do Vietnã entrasse em sua escalada mais intensa. Em entrevista, Bergman diz que, se ao escrever o roteiro tivesse levado em conta esses fatos, o filme provavelmente seria ainda mais duro do que já é.

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