Autor de novela vive reclamando da vida. Diz que acorda cedo, dorme tarde e escreve muito. Talvez por isso mesmo, eles estão entre os profissionais mais bem pagos da tevê brasileira, com rendimentos que chegam a R$ 100 mil por mês e R$ 1 milhão por novela. Apesar de trabalhar como muitos e ganhar como pouquíssimos, os autores normalmente se dizem descontentes com a profissão.

Depois de Benedito Ruy Barbosa e Manoel Carlos declararem que pensam em se “aposentar” das novelas, chegou a vez de Gilberto Braga e Carlos Lombardi, autores de Celebridade e Kubanacan, afirmarem que, se pudessem, só escreveriam minisséries e seriados.

No ar há pouco mais de dois meses, Gilberto Braga garante que, desde Dancin? Days, de 1978, pensa em abandonar o ofício. Oito novelas, três minisséries e um quarto de século depois, ele volta a bater na mesma tecla. Tudo por causa das 14 horas diárias que gasta escrevendo capítulos, respondendo e-mails, resolvendo pendências por telefone… Desde que Celebridade estreou, em 13 de outubro, ele lamenta ter parado de caminhar e fazer ginástica. E o pior: aos 57 anos, só dorme à base de calmante. “Escrevo por semana o equivalente a três longas-metragens. É um trabalho brutal. Prefiro de longe as minisséries”, garante.

Ele e o plantel inteiro da Globo. Aos 45 anos, Carlos Lombardi pode ser considerado o “caçula” entre os autores de primeiro escalão. Mesmo assim, já declarou que se julga “velho demais” para agüentar a “estiva inimaginável” que é escrever novelas. Como seu contrato só vence em 2005, já avisou que só renova se puder escrever seriados e minisséries. “Meu estilo é muito pessoal. Conto com bons colaboradores, mas o trabalho sempre recai nas minhas costas”, justifica.

Novos

Por essas e outras, a Globo começa a formar uma nova geração de autores. No dia 26, o novato João Emanuel Carneiro estréia Da Cor do Pecado, a próxima novela das sete. Para não lançá-lo sozinho na cova dos leões, a emissora convocou o experiente Sílvio de Abreu para supervisionar a trama. Roteirista de filmes como Central do Brasil e Deus é Brasileiro, João Emanuel justifica seu súbito interesse pela teledramaturgia. “No cinema, você espera três anos para ver o que escreveu na tela. Na tevê, você escreve um capítulo hoje e, em três semanas, 40 milhões de pessoas já estão vendo”, compara.

A exemplo de Sílvio de Abreu, Benedito Ruy Barbosa também já foi escalado para supervisionar o trabalho de duas novas “promessas”. No caso, das próprias filhas: Edmara e Edilene. As duas estão escrevendo o “remake” de Cabocla, novela escrita pelo próprio Benedito e cotada para substituir Chocolate com Pimenta em abril de 2004. Conselhos do pai para tão difícil empreitada, garante Edmara, é o que não faltam… “Todos sabem que escrever novelas é puxado. Mas meu pai nos ensinou a sermos organizadas. Disciplina é tudo na vida de um autor de novelas”, teoriza.

SBT e outras

Mesmo sem tanta tradição em telenovelas, Record e SBT também já revelaram “novos talentos”. Yves Dumont, por exemplo, despontou na Record nos anos 90, quando escreveu Estrela de Fogo e Louca Paixão. Recentemente, escreveu a versão hispânica de Vale Tudo para a Telemundo. Já Walcyr Carrasco escreveu, entre outras, Fascinação para o SBT e Xica da Silva para a extinta Manchete. “Todos reclamam do trabalho de autor: dizem que é difícil, estressante… Mas também não deve ser nada fácil ser médico e ter de fazer uma cirurgia cardíaca”, ironiza ele.

No SBT, o contrato firmado com a Televisa impede a emissora de Silvio Santos de investir em tramas originais. O jeito é a autora Ercila Pedroso supervisionar o trabalho de adaptação de textos mexicanos, como Marisol, Pequena Travessa e Canavial das Paixões. “Torço para o SBT se firmar no mercado e a Band e a Record reativarem seus núcleos de teledramaturgia. Igual à Globo ninguém faz mesmo, mas é importante ter outros produtos para oferecer ao público”, raciocina.

Ossos do ofício

Aos 70 anos, Manoel Carlos brinca dizendo que, quando começou na extinta Tupi, muitos de seus colegas de trabalho não tinham sequer nascido. Um dos mais experientes, ele compreende o receio da Globo de não entregar o “carro-chefe” da programação nas mãos de gente inexperiente, mas reitera a máxima que diz que “novela só se aprende fazendo”. Por conta disso, ele cita Elizabeth Jhin como uma das mais aptas para seguir carreira solo. “Há muito, insisto para a Globo confiar uma novela a ela”, reforça Maneco.

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