Alexandre Barillari lembra muito um personagem da ?commedia dell?arte?. Sem papas na língua, o ator passa do drama à comédia em questão de segundos a cada frase. Esse hábito de se expressar sem se preocupar com as interpretações de cada frase dita mostra a irreverência do carioca de 31 anos. Na pele do vilão Gustavo em Cristal, do SBT, o ator diz para quem quiser ouvir que não está satisfeito com a falta de ação de seu personagem na trama. ?Sou obsessivo com meu trabalho. Passo o texto 30 vezes, esmiuço cada letra. Acho comprometedor meu personagem não explodir. Ele não acontece porque o público não se identifica mais com dramalhões venezuelanos?, dispara Alexandre, que no ano passado viveu Guto, o também vilão de Alma Gêmea, de Walcyr Carrasco, na Globo.
P – Fazer dois vilões consecutivamente não preocupa?
R – Para mim não é um sonho fazer vilão, mas esses personagens têm um DNA mais complexo, mais instigante e desafiador. Fui um menino criado para ter bons costumes, agir para o bem. A maldade sempre esteve do outro lado do muro para mim. Escalar esse muro é uma delícia. Tinha pedido a Deus outro vilão e fui atendido. O Gustavo é o oposto do Guto, menos abissal, contemporâneo, mais sutil. Foi por isso que eu fui para o SBT.
P – Você também tinha sido sondado pela Record, mas o SBT teve uma oferta melhor de salário…
R – O que foi determinante era eu não ter sido escalado na Globo para nenhuma novela. Claro que a grana que o SBT me ofereceu é ótima. Eu teria invadido o reino da loucura se não aceitasse a oferta deles. Também tenho direito a ter mordomia, a comprar meu apartamento em Nova York um dia e realmente ser valorizado pelo meu trabalho.
P – Mas Cristal está com uma audiência baixa e o SBT costuma tirar repentinamente algumas produções da grade. Isso não o preocupa?
R – Claro! Vim de um parâmetro intergaláctico de audiência com Alma Gêmea, que bateu recorde como a mais alta do horário das seis – obteve 45 pontos de média. O SBT vive um momento delicado e acho que meu personagem ainda não disse muito a que veio. Estou no anticlímax, segurando toda a minha explosão porque o texto não me dá elementos para fazer dele um sucesso na novela. Mas ninguém nunca me prometeu um mar de rosas na minha carreira.
P – Este ano você faz dez anos de carreira desde sua estréia em Salsa e Merengue. Como você avalia essa trajetória na tevê?
R – Essa data me dá uma agonia insuportável porque não estou na plenitude plástica dos 25 anos. Já estou descendo a ladeira (risos). Não que eu ache isso tão importante para a carreira. Nessa década, o personagem que me destacou no início foi o Tadeu em Malhação. Tinha acabado de viver um príncipe de conto de fadas com o Antônio de Salsa e Merengue e tive credibilidade também com o Tadeu. Mas a minha virada se deu em Alma Gêmea, meu ápice como ator. Vamos ver depois do Gustavo o que acontece.
P – Pelo fato de o Gustavo ser um ator de tevê o personagem se aproxima muito da sua realidade. Isso dificultou essa composição?
R – Tem sido uma metalinguagem. Além de interpretá-lo, preciso interpretar também os personagens dele. É uma loucura! São cenas que se desdobram. Ele é um vilão que passa por cima dos outros sem piedade. Vemos pessoas assim todos os dias. Os vilões não se reproduzem, se alastram. É o lado selvagem que temos e controlamos com um cabresto firme (risos).
