Quando você pensa na história de uma pessoa, ou até mesmo na história de uma nação, o que lhe vem à cabeça? Para mim, vejo homens e mulheres, heróis, protagonistas de suas próprias vidas, perseverando e lutando contra alguns obstáculos, sempre determinados a alcançarem seus objetivos.

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Alguns são donos de histórias simples, como uma dona de casa que conseguiu, a muito custo, sustentar e criar os filhos. Outras já são mais glamorosas, e podem até ser reconhecidas pelo mundo todo. As melhores, talvez, seriam não só o pequeno papel de um homem na trama de sua própria vida, mas a união de multidões que mudaram o curso da humanidade.

Esse é o raciocínio lógico de alguém, mas porque não pensar além? Algo de importante pode ter passado despercebido, não só em uma das histórias mas em todas elas. Alguma coisa que não classificaríamos como parte da trama, como um ator, mas um objeto em cena, cenário, quase tão invisível quanto dispensável.

Mãe de muitos filhos, esta é a história de uma guerreira. A atriz coadjuvante, ou a protagonista de uma era. Ben Pon, como todo pai orgulhoso, já imaginava seu futuro brilhante, e estava certo. Nascida na Alemanha em 1900 e antigamente, nossa querida heroína tinha, assim como todo mundo, seus dias bons e seus dias ruins. Já chorou muito, de alegria e de tristeza, e fez amigos como ninguém nunca foi capaz.

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Nossa personagem trabalhou tanto que até se descuidou. Já vendeu frutas no mercado, foi dentista ambulante, cabeleireira, artista de cinema, já foi conselheira espiritual e amorosa, ou só um ombro amigo. As vezes, um jantar a luz de velas deixava o clima aconchegante, muitos namoros começavam assim. E terminavam, com a mesma rapidez com que começavam, um tempo depois, não sei, numa viagem ao México.

Por mais que se acostumasse com algum tipo de vida, a rotina não lhe cabia bem, logo arranjava uma nova aventura. Foi amada por muitos, é do tipo sentimental, inesquecível, que parte corações. Os brasileiros que o digam, sua chegada no país de todas as raças foi paixão à primeira vista. As portas abertas da nação a acolheram, e ela combinava perfeitamente com a faceta do Brasil.

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E os anos 60, lembra deles? Aposto que não de tudo. Ela se pintou no Woodstock e proclamou a paz e o amor ao som de Hendrix e Janis Joplin. Onde estavam todos aqueles “bicho-grilo” que dominavam as ruas das cidades? Com ela, com certeza. E os amigos de verão? Quem disse que amor de praia não sobe a serra? Ela subia.

De personalidade forte e traços um pouco exóticos, sua forma volumosa transpôs limites, cruzou países e atravessou mares. A estrada era sua confidente e, como todo ídolo no auge de sua carreira, era de se esperar que sucumbisse em sua própria glória. Mas nada é comum quando se pensa nela, e como não era de se esperar ela tomou seu lugar, chegou onde queria chegar, no coração dos homens, no asfalto que costura caminhos, no seio das famílias, na história da evolução.

Capitalistas ou socialistas, materialistas e alienados, sonhadores, românticos, aventureiros, cientistas, atletas, animais, amigos, amantes, todos a conhecem. Onde foi que ela aprendeu a ser tão sociável? Foi conectando povos, amarrando as diferenças que ela deixou sua marca, registrada, claro.

Você também já a conhece, mas talvez acharia clichê compartilhar seus melhores momentos nas horas e km rodados em que passariam juntos. Pense melhor, o que é um clichê se não algo tão bom que torna a se repetir inúmeras vezes?

Sempre em movimento, mesmo parada. O destino nunca importou, só o prazer da viagem. E agora, depois de uma odisséia através da história de tanta gente, é da estrada e de seus amigos que ela se despede. Suas formas não serão esquecidas, passem mil anos e mil novos amores, que seja (só não cabe aqui dizer sua idade, afinal, ela é rodada). Kombi, você vai deixar saudades.