Finalmente chega às telas o blockbuster mais aguardado de 2005, King Kong. Dirigido pelo oscarizado (pela trilogia Senhor dos Anéis) Peter Jackson, o filme deve arrastar multidões às salas de cinema para testemunharem o mais novo movimento do cinema moderno: o traseiro quadrado. Com mais de três horas de duração, o filme faz jus a tudo que já foi especulado em matéria de efeitos especiais e referências. Porém, excede desnecessariamente no tempo gasto pra contar a história.
Na primeira hora Jackson desfia para o público atento seu repertório de referências, de Cidadão Kane a Joseph Conrad, além de várias cenas idênticas ao original. Na ação, o diretor de cinema Carl Denham (Jack Black em papel sério e inacreditavelmente pouco caricato, quase contido) tenta conseguir verba para seu filme e encontra a substituta para sua atriz principal (que desertou) na atriz de vaudeville desempregada Ann Darrow (Naomi Watts em um papel tão tolo que nem parece a mesma que fez o profundo 21 Gramas).
Sem conseguir a verba, Denham foge de navio com equipe técnica, roteirista ? (Adrien Brody, o atual feio mais lindo de Hollywood e única a se interessar pelo papel de Jack Driscoll) e elenco em busca da tal Ilha da Caveira para realizar seu filme. Mais blábláblá no navio, envolvimento de Driscoll com Ann, Denham como vilão que usa a câmera como arma e eis que a primeira hora ainda não terminou.
É na ilha que vemos onde o diretor gastou os 20 milhões de dólares de adiantamento que recebeu dos estúdios. São tantos efeitos especiais de encher os olhos que não se sabe para onde olhar. Dinossauros (de pelo menos três espécies diferentes), ataque de insetos gigantes, sem contar a recepção calorosa dos nativos, que imediatamente levam Ann para sacrifício ao Kong. É referência a Spielberg que não acaba mais, e até ouso falar, a Starship Troopers. Lá pela hora e meia, então, eis que finalmente aparece o gorila.
Gollum como King
King Kong foi feito da mesma forma que o personagem Gollum, do Senhor dos Anéis, e pelo mesmo ator, Andy Serkis. Ele teve suas expressões faciais transformadas e adaptadas para a linguagem de um gorila por meio de um software desenvolvido especialmente para o filme. O preparo envolveu pesquisa com um primatólogo e a participação de Serkis nas gravações, para que os atores conseguissem se envolver emocionalmente nas cenas. De acordo com uma entrevista de Naomi Watts, quando ele precisava interpretar a cena olhando para ela, fazia com uma boneca Barbie.
Qualquer um que tenha lido algo a respeito do filme já deve saber que King Kong versão 2005 é muito humano. O primata é solitário, vive sob constante stress de ter de delimitar seu território ? já que divide a ilha com T-Rex e parentes ? não tem parentes e nem uma companheira. É, provavelmente, o último de sua espécie. Mas ele não consegue convencer ninguém disso, a não ser Ann, que dorme em suas mãos. E por isso, depois de muita luta e mais efeitos especiais ele é capturado por Denham é levado para Nova Iorque.
Na última hora do filme é possível acompanhar a cidade de Nova Iorque de 1933 em três dimensões, nascida das mãos de 450 artistas de efeitos visuais, em 53 cenários em miniatura, com 150 maquetes esculpidas a mão e um software de condições climáticas que permitia cobrir Manhattan digitalmente com neve e chuva. É o ápice do filme, quando Peter Jackson finalmente realiza seu sonho que começou quando tinha apenas 12 anos, de fazer a versão high-tech da história do clássico.
O empenho de Jackson em trazer a história de King Kong para os dias atuais parece ter se concentrado na parte técnica. Embora aborde algumas questões superficialmente, como a ambição de Denham ? que por vezes usa a câmera como arma, quando todos estão usando tentando se defender com munição de verdade, e a realidade da depressão naquela época, ele peca em manter a história do encantamento da mocinha pelo primata. Há quem defenda que, na atualidade, Ann devesse prestar mais atenção ao intelectual e apaixonado Driscoll, que se arrisca para salva-la, do que na proteção tacape que Kong oferece.
No longínquo fim, King Kong não é um mau filme, só é longo demais. Fica a sensação de que Peter Jackson não conseguiu decidir-se ainda em fazer filmes autorais ou de ação e efeitos especiais. Tentando equilibrar-se em ambos, acaba ficando sem os dois coelhos. Na certa, não ouviu na escola (de cinema) a famosa frase ?cinema é corte?, ou não quis dar ouvidos. Pena o espectador, que tem de levar uma almofadinha de casa.
Confira as estréias e o trailer de King Kong