Quem não conhece Kimbra talvez não saiba que é dela a voz no dueto Somebody That I Used to Know, megahit do cantor Gotye, em 2011/12. Em seu trabalho próprio, a cantora faz pop com reverência ao r&b de Prince e nomes de sucesso do início dos anos 1990, como En Vogue, Babyface e Paula Abdul. É um período menos explorado pelos retromaníacos do soul, e certamente uma raridade num evento de poucas sutilezas como o Rock in Rio, mas foi responsável por um dos destaques do festival até agora.

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Com um jeitão Katy Perry, vestido inflado de Alice no País da Maravilhas, Kimbra protagonizou um take excêntrico sobre r&b de época, cantando doidivanas sobre as sólidas bases rítmicas de sua banda, lembrando, em vezes, o surrealismo hiperglorioso do Cocteau Twins. O balanço seduziu o público do Palco Sunset, ressuscitando a veia truncada das batidas de Prince, até que Kimbra encerrou sua Cameo Lover e chamou reforços.

Eis que surge um pelotão de ritmistas do Olodum, Kimbra sobe a ladeira, chega a Salvador, e cai no samba reggae. Foi um dos momentos memoráveis desta temporada de rock: uma neozelandesa mergulhando no suingue brasuca, com toda a falta de intimidade estrangeira que se possa imaginar, e mesmo assim, criando um bem bolado rítmico altamente contagiante.

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O público, lógico, estava em casa e ao ouvir o toque arrastado, curtido em gerações de negritude e sol baianos, do Olodum, fez carnaval sobre a grama sintética do Rock in Rio, consagrando a nova Ivete da terra do kiwi.

No cerne da mescla de Kimbra estava um visível respeito pela cultura alheia, e a cantora arriscou até um português ensaiadíssimo, embora imperfeito: “Isto é a very momento especial for me now”, disse, antes de chamar os baianos e dar início ao ápice da colaboração.

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.