Pode até parecer pretensão, mas Kid Vinil não se tornou o herói do Brasil por acaso. O sessentão, mais do que ninguém, tem propriedade para falar sobre música. Radialista, DJ, VJ da MTV, escritor, vocalista e crítico musical: o fato é que Antonio Carlos Senefonte, seu nome de batismo, é peça-chave para entender minuciosamente a história do rock nacional. Além de defensor do gênero em terras tupiniquins, o paulista trouxe o punk e o new wave para o País. A história de um dos maiores disseminadores da cultura pop é contada em Kid Vinil: Um Herói do Brasil (Edições Ideal), escrito pelo jornalista Ricardo Gozzi e o guitarrista e produtor musical Duca Belintani. Os três participam do lançamento do livro na noite desta quarta-feira, 20, a partir das 21h, no Sesc Consolação, com entrada gratuita.
A história do garoto atarracado, nascido na cidade de Cedral, no interior de São Paulo, começou no primeiro trimestre de 1955. Não se sabe ao certo a data. Para a mãe de Kid, ele nasceu em 26 de fevereiro. Já o pai, no entanto, crava que foi no dia 10 de março. À época, era muito comum que os nascimentos fossem registrados não apenas dias depois, mas, às vezes, com semanas ou até meses de atraso. “Eu tinha duas festas de aniversário. Era engraçado, porém, corriqueiro em muitos locais do interior”, diz Kid, que recebeu a reportagem do jornal O Estado de S.Paulo em seu apartamento, no bairro do Cambuci, na zona sul de São Paulo.
A paixão de Antonio pela música começou cedo, ainda na infância. Os pais gostavam de cantores como Carmem Miranda, Altemar Dutra e Tonico e Tinoco. O contato com artistas internacionais veio por intermédio do vizinho Benedito, que emprestava discos de Elvis Presley para o garoto. Influenciado pela religiosidade da mãe, Kid queria ser padre. Virou coroinha. Foi o mais próximo que conseguiu. No colégio, conheceu Beatles, Stones, Hendrix e Joplin. “O rock’n’ roll dominou meus pensamentos e eu esqueci aquele fanatismo católico”, afirma ele.
O primeiro emprego na gravadora Continental foi o divisor de águas na vida de Kid. Auxiliar do departamento pessoal, vivia no depósito da gravadora com as coleções de rock nas mãos. Foi justamente lá que conheceu Vitor Martins, letrista de vários sucessos de Ivan Lins. Após algumas conversas, Vitor ficou espantado com o amplo conhecimento do adolescente e convenceu os donos da gravadora a deixar Kid trabalhar com música. “Sempre tive uma admiração muito grande por ele. O Vitor deu o pontapé inicial na minha carreira. Somos amigos até hoje.” A partir daí, ele passou a viajar mais. Foi para Londres, berço do punk rock. De lá, trouxe repertório para gravar uma coletânea de punk e new wave.
O boom de 1980
Ser músico não fazia parte dos planos de Kid Vinil. Segundo ele, as coisas aconteceram de forma natural e espontânea. “Nunca compus nada. Apenas assumi os vocais para cantar algumas letras”, diz. Verminose, sua banda, mudou o nome para Magazine. Sucessos como Sou Boy, Tic-Tic Nervoso e Comeu, de Caetano Veloso, explodiram nas rádios. O rock brasileiro bem-humorado virou uma realidade nos anos 1980. Algo inexistente nos dias atuais, segundo Kid. “O Brasil, infelizmente, não é o País do rock. Tivemos um momento muito bom na década de 80, mas parou por aí. A partir de 1990, o gênero passou por uma transformação”, defende.
Ícone dos anos 1980, quando pulava de um lado para o outro no palco de maneira desconcertante, à frente do Magazine, Kid vê o período como primordial para entender a história do rock e seus mais variados subgêneros. “A década de 80 foi extremamente importante. No início dos anos 1990, muita gente desprezava as aberrações oitentistas. Diziam que foi uma década que não acrescentou nada à música. Hoje, no entanto, isso não existe. Todas as bandas que aparecem nos dias atuais, sem exceção, têm um pé na década de 1980. Talking Heads virou referência para todos os grupos. O David Byrne era uma piada. Hoje em dia é um deus. A década de 80 foi a última grande referência para o rock. As pessoas falam do grunge, nos anos 1990, mas, se analisarmos melhor, a referência deles era o hard rock e o punk.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.