Parecia só mais uma tarde serena na vida de Tim Rice. Depois da separação do Keane, o tecladista britânico se acostumou com dias menos turbulentos. Nada de turnês exaustivas pelo mundo ou mesmo a produção frenética de composições, como costumava fazer há alguns anos. Tom queria descansar, recuperar-se de um matrimônio malsucedido e escrever suas letras de maneira leve, sem pressão. Foi justamente neste clima de tranquilidade que o músico foi surpreendido pela visita de Tom Chaplin, amigo, vocalista e ex-companheiro de banda.
O que parecia só um encontro natalino com direito a chocolate quente se transformou numa jam session. “Mostrei para o Tom o que estava escrevendo e ele gostou bastante. Nossa parceria é de longa data. Foi inevitável não pensar em uma volta. Eu achava que aquelas canções ficariam incríveis na voz dele”, diz Tim, em entrevista à reportagem.
Depois de um hiato de seis anos, a banda inglesa Keane voltou à ativa no início de junho. Além de Tim e Tom, Richard Hughes (bateria) e Jesse Quin (baixo), integrantes da formação mais clássica do grupo, também se uniram à dupla. Juntos, eles lançaram a canção “The Way I Feel”, primeiro single do novo disco, “Cause and Effect”, que chega às lojas na segunda quinzena de setembro. O quarteto apresentou seis das novas músicas para a imprensa durante um evento fechado em um hotel de luxo no simpático bairro de Covent Garden, no centro de Londres.
“Nós temos um carinho muito forte um pelo outro. O Tim havia escrito uma coleção de músicas bonitas, dolorosas e profundas. Fiquei encantado com aquele material. Senti que precisava dar voz aos sentimentos dele”, afirma Tom antes de dar início ao pocket show.
Em pouco mais de 30 minutos de apresentação, Tom se mostrou em plena forma física. Sem desafinar, alcançou todas as notas e mostrou desenvoltura com a avalanche de baladas melodramáticas compostas por Tim. Aos 40 anos e já bastante grisalho, o frontman do Keane não tem mais aquele rosto angelical que encantou o mundo com os hits “Somewhere Only We Know” e “Everybody’s Changing”.
Em 2012, depois do lançamento do disco “Strangeland”, os ingleses decidiram fazer uma pausa por tempo indeterminado. Tom estava em apuros e não conseguia se recuperar do vício em cocaína. Após várias internações frustradas, veio o comunicado oficial da banda: o Keane não iria mais continuar. “Foi uma decisão muito difícil de ser tomada, mas acho que foi o melhor a ser feito. Naquele momento, eu sentia o peso do mundo sobre minhas costas. Eu não estava bem, precisava me tratar”, relata. O vocalista sempre falou abertamente sobre seu vício e nunca fez questão de esconder nada de seus fãs. “É uma doença. Precisamos conversar abertamente sobre o tema. Este tipo de vício necessita ser tratado como um problema de saúde”, comenta.
“Há 2.190 dias” sem consumir nenhuma substância ilícita, como o próprio Tom gosta de cravar, o Keane ressurgiu das cinzas em 2019. Os britânicos, que iniciaram sua carreira fazendo cover de músicas do U2, têm 13 milhões de discos vendidos em todo o mundo. Suas canções foram produzidas mais de 2,5 bilhões de vezes nas principais plataformas de streaming. A banda foi uma das mais influentes do Reino Unido entre 2008 e 2012 e impulsionou a onda do chamado “soft rock” (grupos que não possuem guitarristas em sua formação). Desde o hiato do Keane, o vocalista Tom Chaplin lançou dois álbuns solo: “The Wave” (2016) e “Twelve Tales of Christmas” (2017).
O sexto disco de estúdio do Keane, “Cause and Effect”, terá ao todo 11 músicas. As seis faixas ouvidas pela reportagem em Londres mostram uma banda com um som coeso e que aposta, mais uma vez, na força dos teclados para conquistar o público. É o caso de músicas como “Im Not Leaving”, “Strange Room”, “Put The Radio On” e o single “The Way I Feel”. Sem guitarras, as canções falam sobre superar os fantasmas do passado e encerrar ciclos. “As letras refletem o estado de espírito dos meus sentimentos. Quando as escrevi, tinha acabado de terminar um relacionamento longo e doloroso. Acho que música serve justamente para isso. Eu amo transportar o que estou sentindo para o papel”, conta o tecladista Tim Rice, que no ano passado deu fim ao seu casamento de 7 anos com a então mulher Jayne Rice-Oxley.
Além das decepções amorosas, os integrantes do Keane se depararam também com a paternidade. “Sua vida muda completamente depois que você é pai. Você passa a ver o mundo com os outros olhos”, diz o baixista Jesse Quin. “Eu passei a pensar duas vezes antes de fazer qualquer besteira. No fundo, sabia que tinha alguém que dependia de mim. O amor pelo meu filho é incondicional. Justamente por isso resolvi me tratar da dependência química”, afirma Tom Chaplin.
Na estrada
Para celebrar a volta, o Keane já tem várias apresentações confirmadas pela Europa. A banda toca em Londres, Madri, Manchester, Valência, Paris e Dublin entre junho e outubro. Na América do Sul, até o momento, eles farão shows em Buenos Aires, Bogotá, Santiago, Lima e Assunção. É muito provável que a nova turnê também passe pelo Brasil. “É sempre um lugar incrível (o Brasil). Lembro com carinho das vezes em que nos apresentamos por lá. É um povo muito vibrante. Cantam todas as músicas com a alma. É óbvio que iremos voltar”, complementa Tom. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.