O leitor que, assim como eu, está acima da faixa dos 30 anos, certamente irá se recordar de um dos filmes mais marcantes da nossa geração: Karatê Kid. A história, que trazia o inesquecível Pat Morita no trabalho de sua vida como o simpático Kesuke Miyagi, mostrava a vida do jovem Daniel LaRusso (Ralph Macchio), constantemente castigado por valentões da escola. Auxiliado por Miyagi, LaRusso aprende não apenas o Karatê, mas também ensinamentos de humildade e o cultivo de uma grande amizade.
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O diretor Harald Zwart destaca no filme paisagens exuberantes da China. |
Vinte e seis anos após o seu debut, a série Karatê Kid (composta também por Karatê Kid II – A hora da verdade, Karatê Kid III – O desafio final, e Karatê Kid 4 – A nova aventura) retorna aos cinemas nesta sexta-feira, mas diferente do que nos costumamos a ver.
Em vez de jovens, a nova versão de Karatê Kid é protagonizada por pré-adolescentes, a história agora se passa na China – e não nos Estados Unidos – e, a principal mudança: embora leve o nome da arte marcial japonesa, neste filme é o Kung-fu quem dá as caras. Apesar das inúmeras desconfianças, a releitura do filme é surpreendentemente boa, ainda que seja inferior ao original.
A trama é essencialmente a mesma. Dre Parker, um garoto de 12 anos, muda-se para Pequim com sua mãe. Em sua nova realidade, ele irá encontrar Chang e seus amigos, que irão tornar a sua vida um inferno.
Para reverter a situação, Parker irá encontrar ajuda do zelador Han, um inusitado mestre de Kung-Fu, e em Mei Ying, uma jovem violinista por quem se apaixona. Assim como Miyagi valia-se de uma forma um tanto quanto diferente para ensinar Karatê a “Daniel San”, Han utiliza o mesmo artifício com Parker.
Porém, em vez de pintar cercas e encerar carros, o “Xiao Dre” utiliza uma jaqueta e um cabideiro para treinar a arte marcial chinesa. As atuações das versões século XXI de LaRusso e Miyagi, Jaden Smith e Jackie Chan, respectivamente, são inesperadamente ótimas.
O primeiro não lembra em nada aquele moleque chato que estrelou o remake O dia em que a Terra parou. Pelo contrário, Smith consegue ser engraçado quando a situação exige assim como transmite a sensação de dor e pena quando encara seus temores.
Chan, a quem sempre vi como um Renato Aragão das artes marciais, deixou de lado esse ponto negativo e saiu-se muito bem atuando de forma mais séria e madura. Se ele explorar mais esse lado ator e deixar em stand by as performances “circenses”, certamente irá conquistar resultados interessantes.
O diretor Harald Zwart, cujo currículo não é dos mais animadores, desenvolveu um bom trabalho, ainda que haja algumas pequenas falhas. Zwart apostou certo ao explorar bem a fotografia do local, destacando paisagens exuberantes da China, e também em alguns planos abertos, como as montanhas de um templo shaolin onde mestre e aluno vão treinar.
As coreografias marciais estão precisas, como no combate em que Han salva a vida de Parker. Ainda que fique estranho ver Chan “bater” em crianças de 12 anos, a sequência é empolgante.
De negativo, apenas as lutas do torneio, que ficaram um tanto quanto exageradas e curtas e o próprio nome, que poderia ser mais honesto e se chamar Kung-fu Kid.
Porém, isso não estraga em nada a diversão e, no caso dos espectadores acima dos 30 anos, o saudosismo de quem cresceu vendo os ensinamentos do senhor Miyagi.