A data exata dos 150 anos de nascimento de Richard Strauss é 11 de junho próximo, mas já pipocam muitos lançamentos em função da efeméride. Um dos CDs mais interessantes, e que não merece passar desapercebido, é Strauss & Mahler – Quartetos com piano e lieder (Sony, download por US$9,99). Ele registra o primeiro encontro entre a soprano Simone Kermes e o ótimo Fauré Quartett. Os quartetos de ambos os compositores são obras da juventude. O disco vale pelos fabulosos arranjos das canções para soprano e quarteto com piano por Dietrich Zöllner. De repente, o acompanhamento ganha nova dimensão, mais ampla e sugestiva. E as performances, de elevadíssimo nível, incluem seis das mais conhecidas canções de Strauss. Sabe-se que ele compôs lieder por quase meio século para sua amada, a soprano Pauline de Ahna. Conheceu-a em 1887, quando tinha 23 anos. Casaram-se sete anos depois e viveram juntos até a morte do compositor, em 1949.
Seu presente de casamento foram duas canções que estão nesse emocionante CD: Morgen (manhã), até hoje seu lied mais famoso, que chegou a orquestrar posteriormente; e Cäcilie, sua mais ardente declaração de amor a Pauline. A voz límpida e afinadíssima de Simone Kermes é perfeita para este repertório intenso e refinado. Ela e o quarteto estão espetaculares.
Zueignung, ou Dedicatória, tem um buquê brahmsiano manifesto. Heimliche Aufforderung, ou Convite Secreto à Noite, termina com o verso “venha, maravilhosa noite desejada com tanto ardor!”. Strauss deixou instruções expressas proibindo arranjos de suas obras, sobretudo os lieder. Em boa hora, sua bisneta Madeleine Rohla-Strauss, permitiu os arranjos de Zöllner, com certeza depois de ouvi-los.
Os dois lieder de Mahler são de sua juventude e giram em torno do amor, só que o espectro da morte já rondando, em contraponto à vida, que naquela altura ainda lhe falava mais alto. O arranjo de Onde Soam os Belos Trompetes, poema da antologia A Trompa Mágica do Menino, por exemplo, é antológico. Erinnerung (memória), de 1880, completa a parte vocal do disco.
Os dois quartetos com piano recebem do Fauré Quartett interpretações irretocáveis. O extenso – 37 minutos – quarteto de Strauss, escrito aos 21 anos, deve além da conta ao quarteto opus 25 de Brahms, literalmente citado nos compassos iniciais do Allegro. O movimento de quarteto de Mahler, composto aos 16 anos, e que dura 13 minutos, só tem interesse histórico: deve demais a outro quarteto de Brahms, o terceiro, em dó menor, que estreara um ano antes em Viena.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.