Junio Barreto ama demais. É sua maldição, a mesma dos poetas do Romantismo do século 19. Mas também é sua bênção. Ele sabe disso, e tem consciência de que seu novo disco, o segundo, “Setembro”, não existiria se não tivesse sofrido as dores de um amor não correspondido, ou que chegou ao fim. “É um problema que tenho, eu gosto demais. Sempre acaba acontecendo, mas sabe que eu até gosto? Isso me traz palavras para escrever as músicas. É preciso vivenciar as dores, para conseguir escrever sobre elas. Paulinho da Viola, Otto, Chico Buarque, qualquer pessoa que escreva sobre isso precisa passar por uma situação de desamor”, explica o músico pernambucano de 47 anos, há 13 vivendo em São Paulo. “Eu me mudei no dia 13 de agosto. Lembro sempre desse dia.”

continua após a publicidade

O responsável pela vinda de Barreto foi Otto, citado como um grande letrista de músicas de amor – ou da falta dele -, amigo dos tempos de Recife, que lançou, com o coração em frangalhos, o excelente “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos”, em 2009. “O Otto é um grande amigo. Estamos sempre gravando, compondo juntos”, diz Barreto. “Ele só não colaborou neste disco por uma dificuldade em conciliar as nossas agendas.”

Em “Setembro”, cujo show de estreia será hoje, às 21h, no Sesc Vila Mariana (R. Pelotas, 141), com os ingressos já esgotados, o que não faltam são ótimas colaborações. A lista é imensa: Céu, Luisa Maita, Marina de La Riva, Seu Jorge, Vítor Araújo, Gustavo Ruiz, Apollo 9, Orquestra Experimental de Cordas de Olinda, Fábio Trummer e Mombojó. Organizar tudo foi fácil, segundo Junio, e responsabilidade de Pupillo, baterista do Nação Zumbi e produtor cada vez mais requisitado no mercado nacional. Ficou a cargo do produtor dar unidade ao som refinado de “Setembro”. “Ele foi chamando as pessoas, enriquecendo o disco com o seu conhecimento”, diz.

Junio Barreto estourou há sete anos, com disco homônimo. Suas sinceras poesias de amor ganharam notoriedade. Foi gravado por Gal Gosta, Maria Rita e Lenine. Lançar um segundo álbum foi também um processo de desapego que custou a ser realizado. Foram necessários sete anos entre um e outro. “O primeiro disco teve uma crítica altamente favorável e o show do disco foi rendendo, rendendo, rendendo. Quando percebi, estava há três ou quatro anos tocando esse disco. Não percebia. Esses sete anos passaram muito rápido.”

continua após a publicidade

Em “Junio Barreto”, cada letra levou até quatro meses para ficar pronta. Algo impensável para esse novo compositor. “As composições saíam rápido. O Pupillo me ligava e dizia que poderíamos gravar no dia seguinte. Então, eu sentava e escrevia uma letra””, diz. Simples assim. No início das gravações, em abril de 2010, a ideia era que o segundo trabalho de Barreto fosse um álbum de gafieira. O som foi se desdobrando até quase-sambas. O ritmo está lá, mas de forma refinada, com elegantes roupagens de jazz, frevo e valsa. As informações são do Jornal da Tarde.