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Jui Huang, o Liu, fala sobre representatividade oriental na TV e no cinema

Há exatamente uma década, em 6 de outubro de 2008, estreava na Globo a novela “Negócio da China”. Entre seus protagonistas estava o ator taiwanês Jui Huang, jovem de 23 anos que havia acabado de entrar para o mundo da dramaturgia.

Na trama, que ficou marcada pelo afastamento de Fábio Assunção durante as gravações, ele vivia Liu, chinês que lutava artes marciais e se envolvia em um roubo bilionário. Também foi em uma cena com Jui que a atriz Bruna Marquezine deu seu primeiro beijo na televisão.

A reportagem entrou em contato com o ator que, agora aos 33 anos, divide seu tempo entre a atuação nos palcos e telas e o restaurante italiano do qual é proprietário na capital paulista.

Fazendo parte do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) Antunes Filho, Jui falou sobre seus projetos mais recentes e sua visão a respeito da representatividade de artistas de origem oriental no mundo da arte.

Huang comentou sobre a forma como o público e as produções brasileiras lidam com artistas de origem oriental e manifestou seus pensamentos sobre a questão da representatividade, que considera de grande importância. “Não é nem diversidade, é representatividade, mesmo. Eu, como oriental, olhar para uma produção nacional e me sentir representado. Acho que a relação aqui no Brasil ainda é muito forte: se colocar algum oriental, precisa colocar alguma coisa do oriente, não o dia a dia. O que não é verdade, atualmente não é isso. O oriental já tá incutido na cultura brasileira”, explica.

Em 2016, o assunto veio à tona por conta da escolha do elenco da novela “Sol Nascente”, que retratava a cultura japonesa – mas trazia atores como Luís Melo e Giovanna Antonelli em papéis de personagens de origem nipônica.

À época, o Coletivo Oriente-se, formado por atores orientais, produziu um vídeo explicando as críticas ao fato, que contou com a presença de Huang. “O que eles batalham é isso: como artista, eu poder realmente fazer qualquer papel, não precisa ser uma coisa específica. ‘Vai fazer pastel? Bota um japonês’. Aí não é legal. Eu, como artista, posso oferecer muito mais do que só fritar um pastel. Como qualquer outro artista”, disse.

Jui conta que já chegou a negar um convite para participar de “um filme pastelão de comédia”: “Por que eu pegaria um personagem pra fazer um sotaque escrachado de um chinês, sendo que não é a minha realidade? Recusei o papel. Não conseguiria nem fazer isso, me desculpa, ia ficar ridículo. Nem sei fazer o sotaque, na verdade, e escrachado… Pior ainda.”

O ator ressalta, porém, que não pretende igualar o que passa a outros tipos de preconceito: “Posso falar com muita propriedade: com certeza não sofro o preconceito que um negro sofre na sociedade.”

“Já ouvi de amigos meus negros de pessoas que, quando estão andando na calçada, atravessam a rua. Acho isso um absurdo. Isso nunca aconteceu comigo, é uma outra relação de preconceito.”

Em seguida, exemplificou: “Existe um olhar sobre o oriental daquele bom moço, o cara inteligente, organizado. É um estereótipo. (…) Não existe mais representar o oriental no cinema, na TV, como uma coisa estereotipada. É meio que um atraso, não querer olhar o que está em volta.”

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