Juarez Machado. |
Assim o joinvilense radicado em Paris Juarez Machado definiu o carnaval de Veneza, que conheceu em 1986: “Lá não é como no resto do mundo, uma festa da carne. O carnaval de Veneza é uma orgia da alma”. O impacto no artista foi tal, que ele decidiu um dia passar uma temporada na cidade italiana. O desejo se concretizou no ano passado: “Fiz uma grande exposição em Paris, muito bem sucedida, chamada Juarez Machado Libertino, onde me mostrava como um Giacomo Casanova. Quando terminou, achei que ainda não tinha esgotado o tema do erotismo. Pensei então em retratar Veneza, de onde veio Casanova. Chegando lá, minha cabeça mudou: já não queria falar só da sensualidade, mas também da arquitetura, do carnaval, dos personagens da commedia dell?arte”.
Parte do resultado dessa experiência poderá ser visto a partir de amanhã, na Simões de Assis Galeria de Arte, em Curitiba. São 26 telas e 20 pastéis em que Juarez usou suas tintas para “desvendar o mistério desse lugar esplendoroso, cheio de luxo, requinte, história e uma certa tristeza, que só dói quando se tem algum amor”.
A temporada entre os canais e palácios venezianos, iniciada no meio do ano passado e concluída em fevereiro – com um intervalo em Paris – rendeu quase 90 obras, que foram divididas em três coleções com o mesmo tema. A primeira é esta de Curitiba, a segunda deve ser inaugurada em maio em Paris e a terceira está programada para o final do ano em Boston, onde Juarez mantém um ateliê. “Eu estava devendo uma exposição em Curitiba. A última vez que estive por aqui foi em 1993, nas comemorações dos 300 anos”, lembra o artista, que em setembro volta para Paris, para concluir as outras duas coleções.
Instado a falar sobre o Museu Oscar Niemeyer (MON), Juarez respondeu que o viu só por fora. “Achei uma maravilha, um espaço belíssimo, no que acabar esses compromissos com a exposição eu quero ir lá conhecer, e me deliciar com o conteúdo a exposição Novecento Sudamericano]”, comentou. “Até porque a Maristela (Requião, diretora do espaço) é minha amiga de longa data. Foi ela quem vendeu o meu primeiro quadro, uma Santa Ceia, por 40 dinheiros, para a dona Nice Braga. E até hoje ela tem esse quadro na parede.”
Bicicletas
Sobre a possibilidade de fazer uma retrospectiva no MON, Juarez adiantou: “Ainda sou muito jovem para uma retrospectiva, mas estou recolhendo um material com o tema “bicicleta”. “O primeiro prêmio que eu recebi foi por um quadro que eu tenho comigo chamado Ciclistas do Itaum, que mostrava os operários de Joinville saindo de bicicleta de uma fábrica, debaixo de chuva, com seus guarda-chuvas”, recorda. “E até hoje, quando eu não sei sobre o que pintar, eu faço bicicletas. Virou uma espécie de logomarca da minha vida. Eu estou recuperando essas obras para fazer uma exposição itinerante pelos museus brasileiros, e o de Curitiba seria o primeiro, pois foi onde tudo começou”. Juarez Machado chegou à cidade em 1960, com 19 anos, formou-se pela Escola de Música e Belas Artes, trabalhou na Impressora Paranaense, como cenógrafo no Canal 6, e em 1965 se mudou para o Rio de Janeiro. “Aqui conheci os artistas da minha geração, como Fernando Velloso, e grandes amigos, como Ary Fontoura, Osni Bermudes e Odelair Rodrigues.”Tendo começado do zero por três vezes – quando chegou em Curitiba, quando foi ao Rio de Janeiro e quando desembarcou em Paris -, sem conhecer ninguém e com pouco dinheiro, Juarez Machado diz não ter “receita” nenhuma para ensinar aos jovens artistas que procuram um lugar ao sol. “Apenas acreditar em si, lutar muito, exercitar muito, e ter a ambição de ser artista maior que qualquer outra coisa. Família, amor, amigos, nada pode ser maior que esse “egocentrismo.”
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Vernissage hoje às 20h para convidados. Visitação de amanhã ao dia 2 de setembro, na Simões de Assis Galeria de Arte (Al. D. Pedro II, 155). Informações pelo telefone (41) 232-2315.