Fazer planos não é com Cléo Pires. Aos 22 anos, a filha da atriz Glória Pires espera as oportunidades profissionais baterem à sua porta. Mas também não é qualquer proposta que a tira de casa. Sem pressa com a vida, Cléo explica que só faz aquilo que ?dá na telha?. E é, assim, que ela justifica o seu trabalho em América. Simplesmente aceitou o convite do então diretor Jayme Monjardim, sem ao menos saber as características de quem iria interpretar. ?Só soube do perfil da Lurdinha no primeiro dia de gravação. Gosto das coisas assim. Esse negócio de planejar é muito chato?, afirma, contundente.
Embora seu discurso pareça ?desencanado?, Cléo se preocupa em não fazer feio na sua estréia em novelas. Tanto que, assim que fechou o contrato com a Globo, foi fazer um curso de teatro. Sua idéia era estar, pelo menos, preparada tecnicamente para o trabalho. Ao fazer uma análise desses três meses que a trama está no ar, ela garante que as aulas de interpretação foram essenciais para sua atuação no folhetim. ?Não robotizei a personagem. Apesar do meu texto sempre ser pequeno, consigo encarnar nela literalmente?, assegura.
E Cléo parece não ter mesmo grandes dificuldades para ?incorporar? a Lurdinha. A atriz se diverte tanto com o jeito debochado e safado da personagem que nem parece que está trabalhando. A única dificuldade que teve foi para imprimir o lado sedutor da jovem. Com 1,60 m e 54 kg, Cléo não considera suas curvas nem um pouco sensuais. Por isso, investe no seu olhar para fazer as cenas em que Lurdinha se insinua para Glauco, interpretado por Edson Celulari. ?Fiquei dias pensando em qual seria minha motivação para conquistar esse cara?, filosofa com ar serelepe. Embora se entretenha com o assanhamento de Lurdinha, Cléo logo enche a boca para dizer que jamais faria o mesmo. Mas o problema não é namorar um homem mais velho e, sim, um homem casado. ?Só de imaginar uma amiga dando em cima do meu pai… Me dá vontade de matar?, exalta-se, referindo-se não ao pai, o cantor e ator Fábio Jr., mas ao padrasto, o cantor Orlando Morais.
Apesar de só agora estrear na tevê, esse não foi o primeiro convite de Cléo para atuar em uma novela. Em 2004, o autor Benedito Ruy Barbosa a convidou para interpretar a Zuca do ?remake? de Cabocla. Mas ela não topou por dois motivos. Primeiro, porque não se sente segura para protagonizar uma trama. Segundo porque não queria fazer um mesmo papel que sua mãe – que interpretou a protagonista na versão original, exibida em 1979. Mesmo porque, Cléo não gosta nada de comparações com a mãe. ?Queria um papel que fosse só meu. Minha mãe não é a única atriz deste mundo. Não segui os passos dela e nem sinto este peso. Só não estou preparada para fazer a heroína de uma novela?, avisa, em tom áspero.
Telona
Já se o assunto é cinema, a atriz pensa diferente. Mesmo sem experiência, aceitou sem pensar duas vezes o convite para fazer a protagonista do filme Benjamin, inspirado no livro homônimo de Chico Buarque. O longa lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema do Rio em 2003. ?No cinema, se tem mais tempo para assimilar o personagem. Já na tevê, tudo é muito corrido. Pego os trejeitos da Lurdinha de acordo com que vou fazendo?, explica.
Mesmo encantada com a carreira artística, Cléo ainda não sabe se vai dar continuidade à profissão. Sem a ansiedade típica dos jovens atores, ela pensa em estudar, depois que acabar América. Culinária, marcenaria, arquitetura, administração… São tantas opções que, talvez por isso mesmo, ela não consegue traçar uma meta para seu futuro. ?Não sou do tipo que diz: sou atriz, só posso trabalhar como atriz e estudar para ser atriz. Não quero me prender a nada para poder fazer várias coisas?, justifica.
A difícil convivência com o assédio do público
Desde que estreou em América, Cléo Pires não teve mais sossego nas ruas. Vira e mexe uma pessoa a pára para elogiá-la. Até aí tudo bem. Mas basta alguém encostar um dedinho na jovem atriz para tirá-la do sério. ?Se o assédio se restringir ao meu trabalho, maravilha! Caso contrário, sou grosseira mesmo?, afirma. E a moça não está brincando. Certa vez, estava na praia pegando sol com uma amiga e um rapaz, que surgiu do nada? – como ela mesma ressalta -, a puxou bruscamente e pediu para tirar uma foto. Sem hesitar, Cléo disse poucas e boas para o cara e tratou de sair daquele lugar. ?Não sacou? Eu estava de biquíni, não rola. Tem gente que não pensa nessas coisas?, indigna-se.
Aliás, fica claro que essa é parte mais chata do trabalho na novela para Cléo. Embora tenha nascido em ?berço estrelado?, filha de Glória Pires e do cantor Fábio Jr., ela não sabe lidar bem com o assédio nas ruas. Muitas vezes, a atriz desistiu até de passear no shopping, um de seus programas prediletos, para evitar o contato com o público. Apesar de garantir que entende a curiosidade das pessoas, a iniciante enche a boca para dizer que não quer isso pra si. ?Acho esquisito ver os outros cochichando e olhando para mim. Ninguém pode pensar que minha vida é um livro aberto porque não é, sacou!??, adverte.
Para fugir desse ?assédio?, Cléo vive agora uma fase mais caseira. Morando sozinha há menos de seis meses, a atriz garante que é boa dona de casa quando o assunto é limpeza. Já na culinária, como não sabe fazer muitas receitas, ela confessa que muitas vezes recorre ao ?fast food? do Mc Donald?s. ?Lá tem a melhor comida do mundo. Mas, quando fico com preguiça, faço um ovo mexido que é uma beleza?, assegura.
