Assistente do fotógrafo americano Steve Mc Curry, mais conhecido pela imagem da garota afegã de olhos verdes que correu mundo na capa da revista National Geographic, o jovem fotógrafo cearense Rodrigo Frota, nascido em Fortaleza há 29 anos, tem muito em comum com ele, além do gosto pelas viagens e pelo jogo cromático entre fotografia e pintura. A exemplo de McCurry, fotojornalista que começou sua carreira cobrindo a invasão soviética do Afeganistão, Rodrigo fez da foto documental o ponto de partida de uma carreira que já acumula prêmios e trabalhos publicados em jornais e revistas, além de convites para bienais internacionais, como a da Bulgária, aberta no começo do mês. Curiosamente, ele, que documentou a vida cotidiana em várias regiões do globo, nunca havia fotografado sua terra natal, o que faz agora na série Germinais, que retoma procedimentos da land art, manifestação artística que usa o ambiente como arte e da qual o inglês Richard Long é o expoente.

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“Não queria fotografar paisagens do Ceará com alguma conotação turística e resolvi criar uma espécie de narrativa visual marcada especialmente pela imagem dos embriões do Alien, de Ridley Scott”, justifica Rodrigo, que, no entanto, dispensou os ovos gosmentos dos xenomorfos criados pelo suíço H.R. Giger para a série Alien. Os seus são mesmo ovos comuns, caipiras, espalhados pelo agreste e praias ensolaradas do Ceará, tornando essa paisagem desconcertante, mas não exatamente ameaçadora como a raça alienígena de Giger.

Empenhado em cruzar a fronteira entre fotografia e pintura, como fez o alemão Andreas Gursky, Frota tem numa outra série, Pictoriais, uma mostra mais evidente dessa relação entre a imagem captada pela câmera e a produzida com pincel e tintas. Nela, predomina a ambiguidade provocada pelo registro aéreo.

A muito custo o observador vai identificar ovelhas ao pé das montanhas do Atlas ou uma piscina em meio à paisagem árida de Ouarzazate, no sul do Marrocos. Tampouco vai associar a foto maior desta página a uma fileira de monges budistas em Mianmar (antiga Birmânia).

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A exemplo de Gursky, Rodrigo Frota elege quase sempre um ponto elevado e usa o plongée para geometrizar a paisagem, caso de uma foto em que um campo semeado do Mianmar vira uma pintura abstrata. “Em outra série, Pulsações, que vai além de Pictoriais, meu diálogo com a arte incorpora outras categorias, como instalações e videoinstalações.” Apresentada há dois anos no espaço cultural da Universidade de Fortaleza, a série representa de forma explícita a contaminação da fotografia de Frota pelo cinema – numa videoinstalação carregada de sugestões eróticas, ele faz uma sereia nadar ao lado de um cardume excitado, que se assemelha ao jorro do sêmen.

Filho de um grande colecionador, Sílvio Frota, que está montando em Fortaleza o primeiro museu de fotografia do Brasil, Rodrigo revela que o cinema independente, assim como a vanguarda do cinema francês dos anos 1960, marcaram sua produção, tanto quanto a pintura. “Estudei artes na Suíça, além de fotografia, e sempre recorro aos grandes mestres, de Monet a Mondrian, quando penso na cor e na forma.” Exemplo disso é uma foto registrada em Lisboa num dia de chuva, em que ele faz uso da estrutura ortogonal das telas de Mondrian para mostrar ao fundo pássaros buscando abrigo – imagem, aliás, enigmática como os retratos que aprendeu a fazer com seu mestre Steve McCurry.

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.