Qualquer torcedor apaixonado por seu time de futebol já teve o delírio onírico de imaginar os maiores craques que defenderam suas cores em todos os tempos juntos e imbatíveis conquistando títulos e vingando derrotas históricas e, claro, injustas.

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Mais ainda se o clube deixou a época de conquistas para trás há décadas, com é o caso do América Futebol Clube, que já teve a terceira torcida do Rio, à frente do Botafogo, e é considerado o segundo time no coração dos cariocas. Hoje, os americanos são poucos, mas nem por isso menos apaixonados e fanáticos do que nos tempos de glória.

O jornalista esportivo José Trajano, atualmente batendo ponto na ESPN, é um deles. Tinha 14 anos quando o América venceu seu último de sua história. Foi em 1960. Naquela ocasião, o time rubro transformou-se no primeiro campeão do recém-criado Estado da Guanabara, após a transferência da capital federal para Brasília.

Alguns outros canecos foram levantados desde então, mas nenhum de tanta relevância. Cansado de testemunhar fracasso em cima de fracasso, Trajano resolveu colocar em prática a ideia mágica. Chamar os mais destacados jogadores de todas as gerações que vestiram a gloriosa camisa rubra, no melhor da forma física e reuni-los para disputar o Campeonato Carioca e permitir que os americanos vivos e mortos pudessem mais uma vez gritar “é campeão!”.

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Para conseguir o feito acima das forças de qualquer ser humano, Trajano resolveu juntar o primeiro time de macumbeiros, videntes, esotéricos e outros especialistas com fortes relações com o além. Subiu o morro do Borel, na Tijuca de sua infância, atrás do babalorixá Pai Jeremias, ex-atacante americano da década de 70, que aceitou a missão de organizar o grupo que reuniria a fina-flor das mentes capazes de realizar a dificílima missão. Seu Sete da Lira, Joãozinho da Gomeia, Thomas Green Morto, Zé Arigó e o massagista vascaíno Pai Santana, entre outros, aceitaram a missão. O tricolor Sobrenatural de Almeida, personagem de Nélson Rodrigues, juntou-se ao grupo para qualquer necessidade.

A aventura fantástica é contada com riqueza de detalhes em Tijucamérica – Uma Chanchada Fantasmagórica. Além de ressuscitar os craques, Trajano ambienta no bairro da zona norte, sede do América, sua história, em um passeio por bares, cinemas, personagens folclóricos tijucanos memórias de sua infância e memórias de sua infância. Aliás, a Tijuca é o único bairro do Rio que os moradores, orgulhosamente, têm um gentílico para chamar de seu.

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Escolhidos os jogadores que comporiam o elenco, entre mortos-vivos e os ainda encarnados, mas longe do ápice da forma física, o desafio da turma foi trazer os do “andar de cima” e colocar em forma os viventes. O local escolhido para o mega despacho foi uma ilha da Baía de Guanabara, onde a primeira naturista brasileira, Luz del Fuego, reinava. Houve problemas. A adaptação ao material moderno foi um deles. Uns reclamavam das chuteiras, outros sofriam com as bolas leves. E os dirigentes precisavam estar atentos para evitar as artimanhas de cartolas “do mal”.

A mágica trouxe à vida não somente jogadores, mas dirigentes, treinadores e o velho estádio da rua Campos Sales, que hoje não existe mais e voltou a viver dias de festa. E o charme do velho campeonato, apenas com os times da capital e o simpático saco de pancadas de Niterói, o Canto do Rio. Do primeiro jogo até a decisão, a épica campanha tem como pano de fundo o Rio da década de 60, onde pontificava a bossa nova e se destacava o estilo boêmio do carioca.

Para lotar o Maracanã na final e ter mais torcedores do que o rival, só havia um jeito: chamar todos os americanos. Os vivos e os mortos. Nunca se viu tanta camisa vermelha dos arredores do estádio. E o bairro viveu uma festa sem fim, da qual participaram não só os torcedores, mas todos os tijucanos, orgulhosos de serem novamente vizinhos de um time campeão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.