José Saramago, um dos mais importantes escritores contemporâneos da língua portuguesa, lança hoje, no Brasil e em Portugal, a sua mais nova obra, O Homem Duplicado. Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, em 1998 e com mais de trinta publicações que lhe renderam mais alguns prêmios e títulos, sendo o último deles o de doutor honoris causa pela Universidade de Évora, o autor tem como tema principal, nesse livro, a identidade do indivíduo.
A história diz respeito a um personagem que descobre a existência de uma outra pessoa absolutamente igual a ele, tanto no rosto, nas marcas de nascença e até nas cicatrizes adquiridas ao longo da vida. O plano narrativo utilizado por Saramago é o mesmo que utilizou nos outros romances situados no período contemporâneo, ou seja, a idéia surge de uma pessoa e de uma cidade comuns, mas que repentinamente, tornam-se excepcionais, e convergentes para o lado fictício.
O autor conta que para começar esse livro, algo inédito aconteceu. “Iniciei esse trabalho pelo título, que surgiu quando estava fazendo a barba. Jamais escolhi os temas dos meus livros”, conta o escritor.
O Homem Duplicado começa com uma citação fictícia, criada por Saramago: “O caos é uma ordem por decifrar”, que foi retirada do imaginário Livro dos Contrários, recursos dos quais já tinham sido utilizados pelo autor em outros livros. “O que eu proponho nessa obra é que investiguemos a ordem que há no caos. O que, no tempo de hoje, que em muitos aspectos nos apresenta como caótico, creio que pode ser encontrado”, afirma o escritor.
Em entrevista coletiva, Saramago explicou o que acredita que torna um indivíduo exclusivo. “É a sua própria unicidade. Uma criança imagina sempre que é o centro do universo, porque ela não é capaz de elaborar um sistema de relação com aquilo que a rodeia. Há um momento em que isso acaba, em que começamos a perguntarmo-nos “que é isto?? e que a segunda pergunta é “quem sou??”, diz.
A respeito do novo presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva, Saramago alertou contra a possibilidade de surgimento de um messianismo. “A pior coisa que os brasileiros podem fazer é olhar para o Lula como um dom Sebastião. Nós, portugueses, temos uma experiência longuíssima de esperar o dom Sebastião, que é sempre aquele que vem resolver todos os problemas”, avisa o escritor. De acordo com ele é um acontecimento extraordinário não só a nível de Brasil, mas no âmbito de toda a América, porém ele faz mais uma colocação: “Não fiquem sentados à espera de ver o que o Lula faz, porque ele vai enfrentar os três monstros que dominam o mundo e que se chamam Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Organização Mundial do Comércio”, ressalta o autor.