José Peón, um artista de rara sensibilidade

Quando José Peón faleceu em 23 de setembro de 1972, perdemos não só o artista, mas também boa parte da memória das artes em nosso Estado, já que ele nunca se preocupou em registrar sua volumosa produção.

Nascido em Buenos Aires, 1889, desembarcou em Paranaguá em 1914. Se estabeleceu em Curitiba no ano seguinte, com firma especializada na gravação de placas e medalhas, profissão que aprendera na sua terra natal. Trabalhou em nossa capital até 1969, quando, por problemas de saúde, foi obrigado a encerrar suas atividades, carreira de muito trabalho e pouco ganho, já que não era bom comerciante.

Nas artes foi mais versátil do que muitos imaginam. Embora tenha ficado conhecido como o ?rei das placas? por uns e ?rei das medalhas? por outros, na verdade suas habilidades abrangiam também a gravura artística, estatuária e a arte decorativa. Foi também um excepcional desenhista, tendo criado inúmeras logomarcas de empresas e instituições, como é o caso do Mate Leão e da Universidade Federal do Paraná.

Além das atividades em sua empresa, foi professor de desenho geométrico na Escola de Artes fundada por Guido Viaro em 1937, por quem deve ter sido estimulado a fazer gravura artística, chegando a participar com alguns trabalhos da Primeira Exposição da Sociedade de Amigos de Alfredo Andersen, em 1941. Lamentavelmente, dessa fase só encontramos os Ex Libris de Newton Carneiro, datados de 1948, desconhecendo-se o paradeiro de outros trabalhos no gênero. Nesse período aparece também como professor titular da cadeira de Gravura, quando da fundação da Escola de Música e Belas Artes.

Da mesma forma que o gesso é utilizado atualmente para a decoração de interiores, Peón, na primeira metade do século passado, fazia o mesmo com os mais variados metais, que iam desde delicados rendilhados para a decoração de interiores, até florões, volutas e rosáceas que decoravam portas, portões, grades, monumentos e túmulos.

Mas são suas estatuetas que mais impressionam. Muito embora poucas tenham sido até agora encontradas, todas são de pequeno porte, variando de 7 a 20 centímetros de altura e confeccionadas em bronze.

De uma beleza ímpar, como é o caso da intitulada Bacante, datada de 1928 e que pertenceu ao Museu David Carneiro, hoje no acervo do Museu Paranaense. Representada por uma jovem nua, tem na mão esquerda uma taça e na da direita uma pinha na ponta de um galho. Mas o que chama a atenção é justamente o galho com a pinha, que é móvel, girando na mão da Bacante, algo não muito comum na época. Por estar com os braços abertos e na ponta dos pés, tem-se a nítida impressão de que flutua no ar, o que dá leveza ao trabalho.

Por ser retraído e detestar a badalação social, Peón teve pouca divulgação de seus trabalhos em vida. Passados quase 35 anos de sua morte, poucos são os que lembram ou sabem alguma coisa desse artista de rara sensibilidade, que pela qualidade e volume de sua obra, merece lugar de destaque no cenário artístico de nosso Estado.

Carlos Alberto Brantes é pesquisador e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

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