Há quase 40 anos uma menina de 9 anos foi encontrada morta nos fundos do Hospital Infantil de Vitória, Espírito Santo. Tinha marcas de abuso sexual e um ácido corrosivo havia sido jogado sobre seu corpo para dificultar sua identificação. O caso de Aracelli Cabrera Sanches Crespo, assassinada em 18 de maio de 1973, comoveu o jornalista maranhense José Louzeiro, repórter de polícia por mais de duas décadas e autor do livro que denunciou duas das famílias mais poderosas do Espírito Santo por envolvimento no crime. Ele conta a história no livro Aracelli, Meu Amor, primeiro dos títulos de Louzeiro que a Editora Prumo coloca no mercado, anunciando a republicação de parte de sua obra.
Aos 81 anos, o escritor comemora também o lançamento de seu mais recente livro, Lições de Amor (Universo dos Livros/UFMA), homenagem à professora Maria Freitas, que o incentivou a ler na infância. Sem a mestra de Geografia do Colégio São Luiz, talvez Louzeiro não viesse a escrever histórias de denúncia como as de Pixote e Lúcio Flávio, ambas filmadas pelo cineasta Hector Babenco – em 1977 e 1981, respectivamente. Louzeiro estreou como escritor aos 26 anos com um livro de contos, Depois da Luta. Alguns dos crimes mais escabrosos cometidos no Brasil seriam investigados pelo repórter e igualmente transformados em livro. Ainda este ano a Prumo lança Os Amores da Pantera, inspirado no assassinato da socialite mineira Ângela Diniz por seu amante Doca Street, em 1975.
No próximo ano, a editora publica mais três polêmicos livros de Louzeiro, que chegou a ser ameaçado de morte várias vezes por defender marginalizados e acusar poderosos. Maior nome brasileiro do romance-reportagem, gênero criado em 1966 pelo norte-americano Truman Capote (A Sangue Frio) e reinventado por Louzeiro, o autor revê (em Anjo da Fidelidade) a história de Gregório Fortunato (1900-1962), o guarda-costas de Getúlio Vargas acusado de encomendar o atentado contra Carlos Lacerda na Rua Tonelero, em 1954, livrando-o da pecha de corrupto e assassino. Outro livro a ser lançado (em 2014) é Em Carne Viva, sobre Stuart Angel (1944-1971), integrante da luta armada e filho da estilista Zuzu Angel, desaparecido durante a ditadura. O terceiro título do próximo ano é O Estrangulador da Lapa, sobre um maníaco sexual obcecado por mulheres bonitas.
Autor de 51 livros e 10 roteiros para o cinema, José Louzeiro sempre esteve na linha de frente da reportagem policial, em confronto direto com o poder constituído por suas denúncias de corrupção e abusos contra presos – das quais a mais vigorosa é Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia. O livro conta a história do assaltante de bancos Lúcio Flávio Vilar Lyrio (1944-1975) que, durante o regime militar, época da criação do grupo de extermínio Esquadrão da Morte, é preso, torturado e depois morto a facadas por um companheiro de cela, em 1975. Entre os filmes baseados em livros seus, é o preferido de Louzeiro. Ele o reescreveu depois da adaptação, reincorporando três capítulos suprimidos a fim de passar pela censura militar nos anos 1970. “Lúcio Flávio era muito pobre, veio ao mundo para indignar”, diz o escritor, definindo o filho do ex-cabo eleitoral de Juscelino Kubitschek como “um grande desenhista, uma pessoa séria e digna”.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo