Uma autobiografia não-autorizada. Ou uma comédia psicopolíticodélica. Estas são as duas definições dadas pelo ator José de Abreu para Fala Zé!, monólogo dirigido por Luiz Arthur Nunes que estréia nacionalmente na programação da Mostra Oficial do Festival de Teatro de Curitiba – Edição 2006, com apresentações nos dias 25 e 26 de março, no Sesc da Esquina.
Bom humor é a palavra chave para definir o espetáculo. Já no instante inicial da peça, Abreu aparece para interpretar uma versão do clássico tango "Cambalache", no que é interrompido por um anjo, que o confundiu com o José bíblico (marido de Maria, a mãe de Jesus). É quando ao ator, a pedido do anjo, começa a contar suas memórias. Memórias de sua vida e da de pessoas próximas, reunidas nos últimos 40 anos. O que significa a mistura de casos bem distintos entre si, retirados de passagens como o período de luta contra a ditadura militar (quando Abreu se aventurou pela política estudantil, foi exilado e voltou ao Brasil para continuar seu caminho artístico); da fase de descobrimento interior e de sair fora do sistema – anos 70/ 80, quando várias terapias orientais começaram a ser divulgadas no Ocidente; e das alegrias e decepções de quem sempre esteve interessado nas mudanças políticas e sociais do país e assistiu à esquerda ascender ao poder.
Uma trajetória de 60 anos – 40 de carreira no teatro, na televisão e no cinema -, também marcados por um outro homem: Luiz Arthur Nunes. O diretor que assina Fala Zé! é parceiro do ator há exatos 30 anos, quando a dupla encenou A Salamanca do Jirau, e não parou mais de se reencontrar. O resultado desta junção de histórias reúne 21 personagens, três deles projetados em dois telões e uma TV de plasma que fazem parte do cenário e que levou mais de seis meses no trabalho de concepção, período em que Abreu, Nunes e os autores Angel Palomero e Walter Daguerre relembraram e reinventaram a trajetória do ator.
"Este é o grande desafio do espetáculo", conta José de Abreu. "É o Zé que está no palco, mas um Zé recriado a partir de minhas histórias e de outros fatos. Ou seja: não sou eu, mas um retrato meu que precisa da constante interação com o público", conclui
