Carolina Gabardo Belo
Não, não é isso que você está pensando. O tema central do livro Uma profissão tão antiga quanto a tua, escrito pelo jornalista da Tribuna Edilson Pereira, é a morte, apresentada de diferentes maneiras em 21 contos que tratam do assassinato em si, como também da vontade de matar, do planejamento do ato e das reflexões dos assassinos.
As histórias de ficção foram escritas nos últimos 10 anos, inspiradas na realidade que Pereira encara diariamente na profissão, especialmente em sua experiência na Tribuna, onde trabalha desde 1998. “Somos bombardeados por histórias viscerais e fiz uma colcha de retalhos da realidade. Ninguém consegue imaginar mais forte que a realidade”, diz o autor. Além do entretenimento, Pereira acredita que sua obra também pode provocar a reflexão.
Nas 202 páginas, o leitor acompanha o desenrolar da morte de um jogador de futebol, encomendada pelo presidente de um time rival ou as reflexões de um policial que acompanha seu parceiro no assassinato de jovens pobres. “A realidade está assim ou pior. E o ser humano tem uma curiosidade sobre o assunto”, diz. Interessados em adquirir o livro pode entrar em contato com o autor pelo email edilso.pereira@ig.com.br
Literatura na veia
A veia literária de Edilson Pereira também está presente nas matérias da Tribuna. Durante este ano ele escreveu a série de reportagens especiais Tribuna da Verdade, que contou a história de crimes de repercussão no Paraná e recebeu significativo retorno do público. Os leitores também podem conferir as produções do jornalista nas matérias que contam a trajetória de times de futebol da capital que não existem mais e são publicadas nas segundas-feiras. Além disso, Pereira – que também já trabalhou nos jornais O Estado do Paraná, O Diário do Norte do Paraná e Folha de Londrina – recebeu os prêmios Paraná de Jornalismo (2003 e 2004) e Funarte de Dramaturgia -Região Sul.
Clube dos assassinos
Edilson Pereira
Em seu livro póstumo A Ninfa Inconstante o escritor cubano Guillermo Cabrera Infante diz: “O assassinato é um assunto sério”. Que uso na apresentação de meu livro. O assassinato sempre foi assunto sério, tanto que – com exceção das guerras, dos genocídios e ações de canibais -era hábito extremo, ao qual se recorria em ocasiões especiais, moralmente e religiosamente condenadas. Quase sempre o assassino que não fugia era punido, quando não executado antes ou depois de julgado.
No entanto, talvez por conta da explosão demográfica, o mundo assiste nas últimas décadas ao fenômeno da banalização do assassinato, que no Brasil assume perfil de epidemia. Hoje mata-se com facilidade, incluindo mortes em acidentes de trânsito, que não passam de assassinatos involuntários. Alguns assassinos vão presos, outros não e os presos não demoram a ganhar liberdade, estimulando novos candidatos ao Clube dos Assassinos – parodiando Robert Louis Stevenson, que escreveu O Clube dos Suicidas – a também escolher a sua vítima e o seu método.
Hoje todo mundo é assassino em potencial, principalmente os policiais que deveriam defender a vida e alguns médicos desatentos. A sociedade é criminosa por omissão, bem como os respeitáveis senhores que moram nas melhores casas dos melhores bairros -são eles que ditam as regras do jogo. A vida na periferia, assim como os imóveis, vale menos que nas regiões centrais – mas morre-se em todos os lugares.
E há, claro, esta categoria emergente, matadores profissionais. Mas estes, naturalmente, sempre existiram e estão em serviço, o que lhes confere o status de atividade semelhante à prostituição: não são legalmente reconhe,cidos, mas todos sabem que existem e quem precisa sabe onde encontrar. Único problema é que em caso de serviço mal feito, não dá para reclamar ao Procon. O nome disto é barbárie. Na barbárie a vida não tem valor. Esta barbárie de nossos dias forma o pano de fundo de meu livro de ficção, sobre a banalização do assassinato.