Jornalista Jacob Gorender morre aos 90 anos

Morreu ontem (11), em São Paulo, o historiador e jornalista Jacob Gorender. Autor de clássicos como O Escravismo Colonial, o intelectual tinha 90 anos. Gorender militou no Partido Comunista Brasileiro (PCB), do qual foi um de seus dirigentes. Sua obra O Combate nas Trevas, referência sobre a luta armada na ditadura militar no Brasil, tornou-o respeitado até pelos militares.

Nascido em 20 de janeiro de 1923, em Salvador, Gorender era de família pobre. Seus pais tiveram cinco filhos. “Meu pai, apesar de judeu, não sabia fazer dinheiro”, dizia. Estudou com dificuldade – faltavam-lhe roupa e sapatos. Aos 17 anos, começou a se dedicar ao jornalismo. Foi na oposição à ditadura de Getúlio Vargas, que se aproximou do PCB por meio do amigo Mário Alves – mais tarde torturado e morto pela ditadura militar.

Gorender estudava na Faculdade de Direito de Salvador quando o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália, em 1942. Apresentou-se voluntário para lutar. Para o general Octavio Costa, seu companheiro de Força Expedicionária Brasileira (FEB), ele “era o mais lúcido marxista brasileiro”. O intelectual orgulhava-se de sua participação na guerra. Engajado em uma companhia responsável pela comunicação entre as unidades, o futuro dirigente comunista escrevia artigos para o órgão oficial da FEB, O Cruzeiro do Sul.

De volta ao Brasil, prosseguiu a militância no PCB, em uma época em que o partido atraía boa parte da intelectualidade – a crise provocada pelo relatório de Khruchev, em 1956, sobre os crimes de Stalin ainda não havia afastado muitos deles.

Foi casado com Idealina da Silva Fernandes Gorender, filha de Hermogeneo da Silva Fernandes, um dos fundadores do PCB. Trabalhou nos anos 1950 e 1960 na imprensa do partido. Em 1958, esteve entre os progressistas que desejaram reformar a agremiação. Rompeu com o PCB após o golpe militar de 1964 e ajudou a fundar o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), que atuou na resistência à ditadura.

Passou pelo inferno da prisão e tortura nas mãos do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Em sua última entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”, em 2012, disse: “Minha vida teve momentos bons e difíceis. Atravessei essa trajetória honradamente. Não tenho do que me envergonhar. Não delatei. Não coloquei ninguém em perigo. Para mim, isso é honroso. Nem todo mundo pode dizer isso”.

Publicou sua obra após deixar o cárcere. “Nasci em uma família comunista. Meus pais eram extremamente cultos e solidários”, disse a médica Ethel Fernandes Gorender, sua única filha. O enterro foi realizado neste quarta (12), no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo. / COLABORARAM GABRIEL MANZANO e ADRIANA FERRAZ

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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