“Siga o dinheiro” é um adágio do jornalismo investigativo: mas isso pode revelar a identidade de uma escritora globalmente popular? Alguns fãs dos romances de Elena Ferrante acreditam que isso está indo longe demais.
Claudio Gatti, um jornalista investigativo italiano do jornal financeiro “Il Sole 24 Ore”, alegou no domingo, 2, que ele provavelmente descobriu a verdadeira identidade de Ferrante, popular por uma série de livros que explora a amizade duradoura de duas mulheres em Nápoles.
Gatti escreveu que registros imobiliários envolvendo a suposta escritora “real”, bem como repasses e pagamentos da editora de Ferrante, Edizione e/o, indicam que ela é uma tradutora italiana, vive em Roma e é casada com um escritor napolitano. O artigo de Gatti foi publicado pelo “The New York Review of Books”, pelo Allgemeine Zeitung, de Frankfurt, e por um site investigativo da França, Mediapart.
O repórter italiano escreveu que “depois de meses de investigação é agora possível fazer um caso poderoso sobre a identidade de Ferrante”. Ele argumenta como a autora tem um relacionamento longo com a editora como tradutora de literatura alemã – a empresa se recusou a comentar o artigo, se limitando a dizer que a investigação era uma invasão de privacidade.
A aparente revelação causou uma reação que questiona se a antiga ideia de usar um pseudônimo deveria mesmo ser objeto de tanto escrutínio. Ferrante havia sugerido, nas raras entrevistas por escrito que concedia, que pararia de escrever se sua identidade fosse revelada.
“Eu nunca me perguntei sobre a identidade de Elena Ferrante”, disse a escritora Roxanne Gay no Twitter. “Quem se importa? Essa informação não muda a minha vida. Nem faz seus livros melhores.”
“Talvez Elena Ferrante tenha um motivo muito bom para escrever sob um pseudônimo. Não é nosso ‘direito’ conhecê-la”, escreveu a romancista britânica Jojo Moyes.
Ferrante tem fãs em todas as partes do mundo – uma delas é a candidata a presidência dos EUA, Hillary Clinton. No Brasil, sua obra é publicada pela Biblioteca Azul.