O Jonas Bloch se considera uma espécie de Matusalém da televisão. A referência ao personagem bíblico, que viveu quase mil anos, é um tanto exagerada. Mas, com 64 anos de idade e 45 de carreira, o ator acompanhou diversas fases da tevê. Fez teledramaturgia ao vivo, passou por diferentes emissoras e atuou em mais de 30 novelas e minisséries. Mas nem por isso desvaloriza a participação de apenas 15 capítulos em “Jamais Te Esquecerei”, do SBT.
Ao contrário. Jonas exalta a disposição da emissora em dar uma cara brasileira ao folhetim mexicano e elogia o elenco. “Há muitos bons atores preteridos na Globo por modelos e famosos de ocasião. O SBT faz muito bem em aproveitá-los”, ressalta o ator que, fora participações, não atua em novela desde o “remake” de “Pecado Capital”, em 98, na Globo.
Em “Jamais Te Esquecerei”, Jonas interpreta o bondoso Antônio, pai do jovem Danilo, de Fábio Azevedo, e marido da rancorosa Leonor, de Bia Seidl. Com a saúde fragilizada após um traiçoeiro golpe – ele perde o haras da família para o ambicioso Eduardo, de Danton Mello – o personagem morre no capítulo que vai ao ar na próxima sexta, dia 2. “Foi uma experiência nova porque nunca havia trabalhado no SBT. Já emendei muitas novelas. Mas há alguns anos tenho feito muito mais cinema e teatro”, explica o pai da atriz Débora Bloch, que tem quase 30 filmes no currículo.
P – Atuar numa novela mexicana do SBT é muito diferente de atuar numa produção global?
R – Não. É claro que a Globo tem um “know-how” no assunto. Mas, pelo tratamento que o SBT vem dando a esta novela, já existe uma consciência de que não adianta reproduzir os padrões mexicanos. Se a emissora pretende atrair novos telespectadores, tem de investir e dar uma cara brasileira ao texto. E é o que vem acontecendo. Gravei muitas externas no haras, com belas paisagens… Além disso, a linguagem está mais coloquial. Não é por acaso que o ibope desta novela está maior.
P – Mas a própria estrutura do dramalhão mexicano não é um entrave para o ator parecer mais natural?
R – Não. Se a gente observar, toda novela – mexicana ou não – tem a mesma estrutura. É um casal que quer ficar junto, mas tem um monte de gente atrapalhando. Não tem jeito! É sempre um “Romeu & Julieta”. A diferença está no modo de levar a trama, nos diálogos, na produção… Acho que o SBT se deu conta de que, ou faz novela nos padrões nacionais, ou morre na praia.
P – Fora participações, você está há cinco anos longe das novelas…
R – Minha carreira é cíclica. Já emendei muitas novelas nos anos 80 e 90. Agora estou fazendo mais teatro e cinema. Trabalhei no filme “Amarelo Manga”, de Cláudio Assis – que tem sido premiado Brasil a fora. Fiz também “Cabra Cega”, de Toni Venturi, “Filhas do Vento”, de Joel Zito, e “Apolônio, Um Brasileiro”, de Hugo Carvana. Mas, na tevê, só têm surgido mesmo participações.
P – Faltam convites para os veteranos de televisão?
R – Para os veteranos e para qualquer ator de verdade. Primeiro porque o mercado já é restrito. Mas não é só isso. Quantos bons profissionais têm sido preteridos por uma cara bonitinha, um modelo ou famoso de ocasião? Muitos! E o público reclama disso comigo. Naturalmente, há novatos que são bons… Mas é muito chato contracenar com quem caiu de pára-quedas na carreira.
P – Você tem predileção por algum trabalho que fez ao longo de 45 anos de tevê?
R – Curiosamente, os trabalhos que mais gostei de fazer foram fora da Globo. Comecei em 58 num programa de suspense chamado “Câmera Um”, feito ao vivo na TV Tupi.
Tinha pouco destaque, mas afinal era minha estréia! Não esqueço também do traficante Russo, que interpretei em “Corpo Santo”, de José Louzeiro, na extinta Manchete, em 87. Essa novela não teve a mesma divulgação que “Pantanal” teria anos depois, mas alcançou uma audiência ótima e rivalizou com a Globo. Agora, me diverti mesmo ao fazer o Quintino de “Perdidos de Amor”, de Ana Maria Moretzsohn, na Band, em 96. Era um personagem rabugento, mal humorado, engraçado… Enfim, uma delícia!