Jogos na berlinda

Futebol é espetáculo. Mas também é notícia. E parece que as emissoras andam se esquecendo disso. A falta de isenção da transmissão da Globo na final da Copa do Brasil foi um bom exemplo. Na decisão entre Sport e Corinthians, o áudio na Ilha do Retiro dava a impressão de que o estádio inteiro cantava pelo time paulista. Nada mais longe da verdade. E logo os apitos da torcida do Sport desmentiriam a adulteração.

Choveram críticas de todo o Brasil inclusive de São Paulo contra a manipulação sonora, prática que já se tornou corriqueira em jogos com microfones abertos no estádio. Tanto em campo, com vigorosas saudações à mãe dos juízes e outras graciosas interjeições, quanto na torcida, com hinos em louvor à sexualidade dos jogadores e locutores esportivos, o som já é filtrado há muito tempo. O que permite distorções de toda espécie.

Há inúmeros outros casos de parcialidade em todas as emissoras, como o tom quase fúnebre que a vitória do Fluminense sobre o São Paulo provocou durante as transmissões da Libertadores. Esse caráter partidário das transmissões e das resenhas esportivas acabou por provocar um raro bate-boca entre os narradores de esporte, iniciado com críticas de Luciano do Valle à falta de equilíbrio dos comentaristas televisivos. O que foi prontamente rebatido por outros narradores esportivos, em uma discussão no qual não faltaram acusações pessoais e xingamentos.


Anda chovendo críticas de todo o Brasil contra a manipulação sonora, prática
que já se tornou corriqueira em jogos com microfones abertos no estádio.

Sobra emoção e falta notícia nas transmissões esportivas. Há um tom claramente ufanista em muitas delas, com gritos, explosões de alegria, de susto ou de indignação. Mas as informações acabam fora de campo, isoladas por opiniões categóricas a respeito de tudo. Até sobre leis da Ciência, torcidas pelo ?achismo? esportivo, como em célebre comentário de Galvão Bueno sobre uma bola que teria saído pela linha de fundo e voltado para dentro de campo. ?Não é possível. A Física não permite?, insistia o locutor.

Permite e explica, através do mesmo princípio que faz um avião voar. Mas a principal lei da mídia é que a tevê odeia o vácuo. E, para preenchê-lo, muita conversa nem sempre bem articulada. É o caso das eternas mesas-redondas ou resenhas de futebol, um transplante malsucedido de um formato radiofônico para a televisão. Sequer a presença de belas assistentes de palco redime o espectador de assistir a meia dúzia de sabichões opinando ferozmente a respeito de tudo. É admirável como desprezam as imagens de arquivo ou a análise mais acurada do ?tape? dos jogos. Nesse sentido, uma das boas novidades que a Globo criou foi o Baú do Esporte, apresentado no intervalo dos jogos.

Mas há espaço para muito mais. Há inúmeros jornalistas de talento, dentro e fora das emissoras, capazes de acrescentar mais informações às transmissões. Não é uma questão de competência, mas de formato. O atual modelo valoriza a emoção acima de tudo. E isso não parece ser o bastante. 

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