Jodie Foster fala de seu novo longa como diretora, ‘Jogo do Dinheiro’

Jodie Foster voltou a Cannes este ano como diretora. Fez a montée des marches com a equipe de seu longa, Jogo do Dinheiro, que estreou na quinta-feira, 26, nos cinemas brasileiros – George Clooney, Julia Roberts, Jack O’ Connell, o invencível de Angelina Jolie. Há 40 anos, Jodie tinha 13 e a prostituta mirim que interpretava em Taxi Driver fez dela, instantaneamente, uma estrela. O filme de Martin Scorsese ganhou a Palma de Ouro, Jodie tornou-se atriz respeitada – e ganhou dois Oscars, por Acusados (1988) e O Silêncio dos Inocentes (1991). Virou diretora. Ganhou um Globo de Ouro de carreira. Em Cannes foi falar de cinema, economia – e política.

“Sinceramente, qualquer pessoa bem pensante tem dificuldade só de imaginar que Donald Trump possa vir a ser o próximo presidente dos EUA. Mas é um sintoma da raiva que as pessoas estão sentindo face a tantas desigualdades e injustiças. Não é um fenômeno norte-americano. Na França, vocês têm Marina Le Pen, Le Front Populaire. O mundo está nos dando uma lição, e não estamos querendo entender.” Jogo do Dinheiro é sobre um guru das finanças que tem um programa de TV. Lee Gates é tão sedutor que Jodie convocou George Clooney para o papel. Ele trouxe Julia Roberts para ser a produtora do programa de TV. Gates fala com a convicção de um pastor religioso. Seu deus é o dólar. Um infeliz que ouve seus ‘conselhos’ investe todo o seu dinheiro num negócio que não dá certo. Desesperado, ele invade o estúdio.

“Não quis fazer um filme anticapitalista, seria um pouco demais. No nosso roteiro não creio que o sistema seja colocado em xeque. O filme é muito mais sobre as responsabilidades individuais, sobre o oportunismo e o mau-caratismo que dominam as mídias. Hollywood quer nos fazer crer que somos todos cordeiros e necessitamos de super-heróis. Fiz o filme na contracorrente, pensando que o público pode se interessar por um suspense adulto, com personagens complicados, porque a vida é complicada. No limite, é o que me interessa. Falar de gente.” Por que George Clooney? “Porque o personagem tem uma curva, sofre uma evolução. No início, ele é um egoísta fdp que só pensa em si mesmo. Como homem e jornalista, perdeu toda a responsabilidade. O garoto desesperado vai levá-lo a reencontrar sua humanidade. Simple as that. Precisava de um ator que tornasse esse movimento verossímil para o espectador. E George é esse ator.”

Muitos filmes têm sido feitos para tentar explicar a crise, mas sempre do ponto de vista das altas finanças. Jodie Foster constrói Jogo do Dinheiro do ponto de vista do pequeno investidor. “O mundo financeiro virou um circo. Nenhum analista está sinceramente interessado no que pensam as massas. O grosso das pessoas não entende nada, mas quer fazer parte do sistema. Espero que Jogo do Dinheiro reflita isso.” Para a diretora, seu filme também é uma indagação sobre a cultura moderna. “Não quero passar a impressão de ser nostálgica de coisa nenhuma, mas quando foi que vocês (Jodie falava para a plateia de jornalistas de todo o mundo) falou olhando no olho de alguém? Vivemos num mundo virtual. George e Julia creem ser próximos um do outro, mas ela fala com ele pelo fone de ouvido e George a vê através do monitor. São as relações contemporâneas. Estamos perdendo o contato, que é o que nos torna humanos. Não creio que um filme possa ter um efeito tão grande que mude a vida de uma pessoa, que mude o mundo. Mas se o espectador sair do cinema com uma interrogação, se nosso filme conseguir lhe plantar uma dúvida, já terá valido a pena.”

A pergunta que não quer calar – qual foi o efeito de Cannes na vida de Jodie? “Foi aqui que tudo começou de verdade para mim. Já havia feito alguns filmes, mas minhas mãe teve a intuição de que seria importante para mim vir ao festival. O estúdio não queria pagar a passagem, ela negociou pelo menos a hospedagem. E viemos. Marty (Martin Scorsese), Bob (Robert De Niro) e Harvey (Keitel) estavam sempre ocupados, dando entrevistas. Eu virei a starlette. Saía para tomar um sorvete e a multidão vinha atrás.

Quando o filme ganhou a Palma, foi aquela loucura. Amo Cannes porque é um espelho do mundo. E depois – onde mais conseguiria falar francês?” É raro, mas Jodie fala muito bem o francês. Boa parte da coletiva de Jogo do Dinheiro foi na língua do país que realiza o Festival de Cannes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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