Joaquim Espírito Santo fala do FeMuSC

Pianista convidado para o Festival de Música de Santa Catarina (FeMuSC), Joaquim do Espírito Santo é mais que um músico virtuoso, foi uma das personalidades carismáticas do festival. Como pianista acompanhador, trabalhou com as turmas de trompete, trompa, violoncelo e se impressionou com a qualidade dos alunos que participaram do FeMuSC. Joaquim não foi o único a se impressionar com o festival, todos os participantes, professores, alunos e organizadores ficaram satisfeitos com os resultados alcançadas nos 15 dias de overdose musical, em Jaraguá do Sul (SC). Nessa conversa, Joaquim do Espírito Santo fala sobre música, festivais e sobre os caminhos que um pianista pode seguir.

ANJ – Como foi participar do Festival de Música de Santa Catarina?

Joaquim do Espírito Santo – Fiquei muito impressionado com o volume de trabalho feito durante esse festival. Foi algo comparável com os grandes festivais internacionais. Os trabalhos desenvolvidos e apresentados foram muito fortes e consistentes. Ter participado disso tudo foi uma experiência muito gratificante.

ANJ – Que impressões o senhor vai levar do FeMuSC?

JES – Somente impressões boas. Surpreendi-me positivamente com o clima de integração que encontrei aqui em Jaraguá do Sul. Não é raro encontrar em festivais um clima de competição entre os participantes, mas nesse caso foi exatamente o oposto. Todos trabalharam em busca do mesmo objetivo, música, e tenho certeza que todos saíram ganhando com isso.

ANJ – Porque o senhor acha que aqui foi diferente?

JES – Esse festival foi um verdadeiro bombardeio de versatilidade, tanto dos professores, dos alunos e dos repertórios. Isso comprovou a contemporaneidade desse festival, e para mim, ficou claro o alto nível dos professores de piano, todos atuantes no país e no cenário internacional.

Além deles, fiquei impressionado com profissionais como o trombonista Radegundis Nunes e o oboísta Alex Klein. Klein inclusive me surpreendeu como regente. Vou dar um recado: orquestras que estejam carentes de bons maestros prestem atenção em Alex Klein, ele tem um trabalho sério e impressionante.

ANJ – Como foi seu primeiro contato com a música?

JES – Sempre tive contato com a música por meio da igreja. Venho de uma família evangélica e sempre ouvi música no culto. Minha mãe é violinista e tocava em casa. Não me lembro, mas me contaram que eu já regia no colo na minha mãe. Mas meu primeiro contato com um piano foi aos cinco anos de idade, desse eu me lembro bem. Hoje atuo no Quinteto de Taubaté (SP), como maestro do núcleo de ópera do Centro de Estudos Tom Jobim, dou aulas particulares e trabalho com cantores como co-repetidor.

ANJ – O senhor fala que a função de co-repetidor é muito pouco difundida. Fale mais sobre esse ramo da profissão de pianista.

JES – Senti falta dessa divulgação no FeMuSC. O Brasil não valoriza os co-repetidores e os classificam como pianistas de segunda. Mas é exatamente o oposto. É preciso ter boa técnica, boa leitura, conhecimento do repertório lírico de uma forma geral e ter uma base cultural forte. Nem todo bom pianista é bom co-repetidor, tem que saber ensinar o cantor a se adequar ao papel que ele representa. Isso é complicado porque o repertório de canto é vastíssimo.

ANJ – Normalmente os estudantes de piano não investem nessa área?

JES – Trabalho como co-repetidor há 26 anos e vejo que os poucos profissionais que atuam nesse ramo são muito requisitados. Como existe essa carência no mercado, outros pianistas acabam por assumir uma função da qual não são capazes, são como "práticos". O mercado precisa de profissionais que não estão disponíveis e eles acabam quebrando o galho. Mas isso é perigoso, porque pode comprometer o desenvolvimento do cantor. O bom co-repetidor tem que interagir, ensinar o cantor a se expressar, por meio do corpo e da voz, o que a música representa.

Mas uma coisa me deixa mais tranqüilo, tem muitos bons profissionais que estão voltando de estudos no exterior e que estão trazendo novas informações, técnicas e isso colabora para o desenvolvimento do estudo da música no Brasil. Esses novos profissionais podem ajudar os estudantes de piano e explorarem novas frentes de atuação, como o estudo em grupo e formação de orquestras de câmara. Nesse festival, também pude explorar esse meu lado.

ANJ – Que tipo de orientação você daria para esses estudantes?

JES – Diria o que quase todo mundo diz: tem que estudar muito, ouvir muito e trocar muita informação. A música tem que ser como um funil. O músico deve reter o máximo de informação para poder chegar a um objetivo.

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