A obra dramatúrgica de João das Neves sempre se destacou pela força tanto do conteúdo artístico como político. Logo em sua primeira peça, O Último Carro, de 1976, durante a ditadura militar, o conflito particular apresenta grande relação com o contexto social – ambientado quase inteiramente no vagão de um trem de subúrbio, o texto une mendigos, operários e pessoas comuns que, entre uma parada e outra, revela seus dramas particulares. Tal força dupla será o destaque da Ocupação João das Neves, que abre na manhã de sábado, 26, no Itaú Cultural.
Dramaturgo, ator, diretor e escritor, ele ainda é, aos 81 anos, a memória viva do grupo Opinião, fundado em 1964 em parceria com Armando Costa, Paulo Pontes, Oduvaldo Vianna Filho, Ferreira Gullar, Pichin Plá, Denoy de Oliveira e Tereza Aragão. Um dos principais focos de resistência cultural no momento da instauração da ditadura, o Opinião firmou-se pelo trabalho de apuro político e ideológico. O próprio Último Carro é visto como uma metáfora do Brasil como um trem desgovernado.
A Ocupação vai apresentar um percurso pelos momentos mais significativos na trajetória do dramaturgo carioca, nascido em 1934, destacando o combate à ditadura civil-militar por meio de atividades político-artísticas – como membro do Centro Popular de Cultura (CPC) e do Opinião – e também o convívio com os povos indígenas do Acre, a partir do final dos anos 1980, e com os congadeiros do interior de Minas Gerais, o que reforçou sua ligação com a tradição popular e a influência dela em sua obra.
Tal relação com o meio ambiente será destacada pela cenografia da Ocupação, projetada por Rodrigo Cohen: peças de cerâmica, mamulengos, máscaras e instrumentos estarão dispostos em ambientes cujo piso reproduz terra batida e conta com folhas secas, serragem e caquinhos de azulejo.
Neste sábado e domingo, às 16h, a Confraria de Dança vai encenar Mirabolante, peça que estreou em 2013. E, no dia 29, às 20 h, acontece a montagem da peça Madame Satã, pelo Grupo dos Dez, sobre o transformista que se tornou símbolo da cultura marginal nos anos 1970. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.