Foi entre 2003 e 2004, em Paris, que Jô Soares deu de cara com Histeria, peça do britânico Terry Johnson, então dirigida por John Malkovich. Logo, providenciou a compra dos direitos, traduziu o texto e agora coloca o título em cena, com direção sua. A estreia será nesta sexta, 6, no Tuca, em São Paulo, onde fica em cartaz até 31 de julho. Escrita em 1993, a comédia promove um encontro entre a psicanálise e o surrealismo, quando Sigmund Freud é visitado em seu consultório, em Londres, em 1938, pelo pintor Salvador Dalí. No elenco, estão Pedro Paulo Rangel, Cássio Scapin, Érica Montanheiro e Milton Levy.

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Àquela altura, Freud, já perto da morte, acabara de escapar da Europa nazista. Perturbado, é visto em situações comicamente atrapalhadas, para o encanto de Dalí, que enxerga no pai da psicanálise alguém capaz de vivenciar o que o pintor só vê em sonhos. É no ambiente desse enredo que o Estado foi ao encontro de Jô, no Tuca, onde ele vem ensaiando há cinco semanas. Falamos de Freud e Dalí, mas também da histeria fora dos palcos, assunto que tem ocupado parte do repertório do apresentador na última temporada de seu talk-show na Globo.

Por que colocar a peça em cena agora?

Vi a peça em 2003 ou 2004, eu estava com a Bete Coelho e com a Mika Lins. Mas houve uma série de fatores independentes da vontade de ser agora ou depois. A gente precisava saber como adquirir os direitos. Liguei pra minha agente literária, que representa os meus livros nos Estados Unidos e na Europa, e perguntei: ‘Você sabe quem representa os direitos de um autor chamado Terry Johnson?’. E ela falou: ‘Claro, é a fulana’. Aí, foi muito rápido. Já tinha traduzido a peça, era uma coisa que eu gostava muito e falei: num momento ou outro eu vou encenar. Mas não tem uma razão para ser agora, a não ser histeria coletiva que a gente vê em algumas manifestações de algumas pessoas, porque tem gente que não pode mais sair na rua que é agredido.

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Você tem sido agredido?

Não, só fui agredido naquela vez que picharam na rua, na frente do meu prédio, ‘morra Jô Soares’. Como eu não morri, não concordei, não houve mais nada. E tive tantas manifestações de apoio, que fiquei comovido. Como agora, que eu falei do Chico (Buarque). Quer queira ou não queira, independe de qualquer posição política, o Chico Buarque é um patrimônio deste país. Chico Buarque de Holanda, tanto na área intelectual como da música, na área da literatura e da música, é um patrimônio. E a gente tem tão poucos, que eu fico revoltado quando fazem esse tipo de coisa. Uma pessoa não pode mais ir jantar com os amigos? Aí, ficam falando bobagem, ficam falando da Lei Rouanet sem saber o que é.

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Você foi acusado de não apedrejar Chico e Dilma por ter recebido apoio da Rouanet, não?

Já fui. Nessa peça aqui, também. O Rodrigo (Velloni, que tem produzido suas peças, inclusive ‘Histeria’) sabe. Depois que entrevistei a presidente da República, como se fosse um crime entrevistar a presidente da República… Eu entrevistarei sempre presidentes da minha República, do meu país, como entrevistei o Fernando Henrique numa época também que era difícil para ele, da reeleição. Vou sempre entrevistar presidente da República, seja qual for, desde que seja numa democracia. Nessa época, depois da entrevista da Dilma, falaram que eu tinha recebido R$ 1,9 milhão pra montar Troile e Cressida. Mostram um fac-símile, de um pedido de licença para captar recursos, um pedido do produtor em que aparece meu nome como diretor e os nomes dos atores como provável elenco, é uma praxe para conseguir captar, mas nunca vi um tostão de nada captado por lei Rouanet.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.