Na telinha

Jô Soares completa 25 anos de entrevistas na TV

O primeiro trio de convidados já revelava o tom que teria aquele programa de entrevistas que estreava em 1988, no SBT: Esperidião Amin, que foi governador de Santa Catarina, o navegador Amir Klink, que havia completado a travessia do Oceano Atlântico, e Makerley Reis, candidata a vereadora por São Paulo que se tornou famosa por exibir os seios durante uma conferência de Leonel Brizola, transformando-se na “Cicciolina brasileira”, referência à uma colega italiana igualmente fogosa.

“E ela levantou a blusa ao final da nossa conversa”, diverte-se Jô Soares que, naquela noite de 16 de agosto, estreava “Jô Soares Onze e Meia”, seu desejado programa de entrevistas.

Mais de 14 mil entrevistas depois, ele comemora 25 anos questionando e divertindo personalidades e desconhecidos: no seu sofá, já se sentaram políticos que se tornaram presidentes (Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula, Dilma), praticamente todos os artistas brasileiros de peso e um punhado de internacionais de todas as áreas, como a atriz Shirley MacLaine, o historiado Eric Hobsbawn e o médico Albert Sabin.

O modelo é o famoso talk show, consagrado na TV americana por nomes como Johnny Carson e Steve Allen, ou seja, entrevistas em que o apresentador é, ao mesmo tempo, ácido, pervertido, brilhante, amistoso. “Trabalhei como jornalista na Última Hora, quando desenvolvi a técnica de entrevista, mas, como também sou humorista, conseguia acrescentar algo às conversas”, conta Jô, que sempre desejou comandar um programa no gênero, mas, apesar de ser uma das estrelas da Globo, não encontrou espaço na emissora.

A tarefa não era nova para o humorista, pois, em 1963, ele participou da equipe do “Programa Silveira Sampaio”, na TV Rio, como responsável pelas conversas internacionais.

Assim, quando recebeu um aceno positivo de Silvio Santos em 1988, ele não apenas estreou um novo programa de humor (Veja o Gordo) como também realizou seu sonho de comandar um talk show.

Inicialmente, “Jô Soares Onze e Meia” era exibido apenas às terças-feiras, ocupando todas as noites da semana logo depois. Teoricamente, deveria entrar no ar às 23h30, mas, como Silvio Santos sempre interferiu diretamente na grade de sua emissora, o programa começou a atrasar, chegando a começar de madrugada. “Por isso, tornou-se alvo de piadas até para mim mesmo.”

Aos poucos, Jô desenvolveu sua técnica de entrevistar. No início, optava sempre por surpreender o espectador e até o entrevistado, como pedir a Enéas, cardiologista e candidato à presidente da República na eleição de 1989, que fizesse nele, no palco mesmo, um exame cardíaco. Aquele momento, aliás, ajudou a elevar a fama do entrevistador, que recebeu praticamente todos os candidatos à presidência daquela eleição, transformando seu programa no principal palco de debate político.

O sucesso consolidado convenceu a Globo a trazer o apresentador de volta, em 2000. Jô deixou o SBT com um total de 6.927 entrevistas realizadas, em 2.309 edições do programa. A última foi ao ar a 30 de dezembro de 1999, quando Jô brincou ao entrevistar Deus.

Na Globo, o “Programa do Jô” ganhou um estúdio mais confortável, com um espaço mais generoso para a plateia, que espera até três meses para conseguir um lugar. “É essencial a presença do público, que dita a temperatura das entrevistas”, comenta ele, cuja produção recebe em média 1.500 e-mails com comentários, elogios, críticas, sugestões.

Jô levou seus fiéis colaboradores, como o diretor Willem van Weerelt e os consultores Max Nunes e Hilton Marques. Também o grupo musical que sempre o acompanhou aumentou: de quarteto para sexteto. Jô começou ainda a lançar bossas como a caneca com logotipo do programa em que serve bebida para os convidados.

A lista de convidados é definida em reuniões semanais com a equipe comandada pela produtora de jornalismo Anne Porlan. Jô garante que seu voto tem ,o mesmo peso que o dos demais. “Só de vez em quando consigo colocar alguém que me interessa na pauta”, confessa.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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