Sem maiores produções, a cantora inglesa vence pela música Valente. Jesse J é uma mulher ousada. Mais uma hora de show e estaria em apuros. Mas, para 60 minutos de duração cravados, deu tudo certo. Ela surgiu se jogando no penhasco, apostando tudo em Price Tag, seu primeiro e ainda maior hit, que a fez conhecida no mundo. Veio mais magra e com os cabelos loiros e bem curtos. Depois, ela explicaria melhor. “Cortei os cabelos por caridade em um programa de televisão. Para cada jovem doente que diz que eu sou sua inspiração, digo que foram eles que me inspiraram.” A multidão à sua frente parecia inebriá-la. “Vocês foram a experiência mais incrível que eu já vivi”, disse.
Carismática e generosa, a ponto de flertar com um de seus fãs e receber um ursinho de pelúcia de outro, ela sabe que tem pouco tempo e tenta usá-lo bem. A certa altura do show, faz uma espécie de “Paz do Senhor” pedindo que cada um abraçasse aquele desconhecido que está a seu lado. Mas o que acontece é mais constrangimento do que entrega. Como uma antítese de Beyoncé, sem trocas de figurino ou outras superproduções, apostou no palco limpo (a banda ficava bem atrás) e na música. E boas músicas, como Laserlight, Wild, I found lovin, Ain’t nobody, Emotions, Never too much, Abracadabra, Do it like dude e Excuse my rude.
Antes do final de Domino, fez uma arrasadora versão para I Don’t Wanna Miss a Thing, um torpedo do Aerosmith. O único figurino que usou, quando não se enrolou na bandeira do Brasil ou pegou um boné emprestado de um fã, foi um vestido de traços futuristas e cores tropicais, curiosamente escolhido por ela por meio de um concurso lançado na internet meses antes de embarcar para o Brasil.
A autora da peça, uma mexicana chamada Zuri Herrera que ganhou US$ 2 mil peça façanha, explicou ter se inspirado em “pássaros brasileiros que nascem em gaiolas com medo da liberdade”. O concurso escolhia exclusivamente o vestido para a apresentação de Jesse no Brasil. Jesse mostrou em sua hora de show ser produto de uma escola de canto negro norte-americano, de notas rápidas e agudas cheias de referências das grandes divas do soul. Quando não faz baladas de amor, investe em um hip hop (presentes em Do it Like Dude e Excuse My Rude) dos novos tempos, embalados, aí sim, por uma superprodução. Seu show vira muitas vezes a pista de dança eletrônica de David Guetta. Mas aqui, não resta dúvidas, é ela mesmo quem canta. Sem playback.