Uma maneira de detonar “O Lado Bom da Vida”, de David O. Russell, é dizer que se serve de um amontoado de clichês; prefere, como o título diz, olhar mais para a luz que para as trevas e contém um lado de autoajuda como todo bom produto que se preze hoje em dia. Numa visão menos amarga, pode-se acrescentar que é raro exemplar de comédia romântica não estúpida, com dois protagonistas que se ajustam como violino e piano, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence, e conta com um roteiro que não desrespeita o Q.I. do espectador. Tem, ainda, como coadjuvante, um Robert De Niro que abandona por um tempo o costumeiro piloto automático e nos concede um vislumbre do seu talento, ao lado da correta Jacki Weaver, como sua esposa.
A história é a de Pat Solatano Jr (Cooper), bipolar solto do hospital psiquiátrico depois de oito meses de internação, que tenta se reintegrar à vida de família e reconquistar a esposa que, com boas razões, o deixou. Nesse meio tempo, ele conhece a maluquinha Tiffany (Jennifer), que promete ajudá-lo a se conciliar com a ex-mulher, Veronica (Julia Stiles), desde que ele a ajude em outro projeto – vencer um concurso de dança.
Partindo dessa trama pífia e mínima, o filme nos entrega mais do que poderíamos esperar, em especial graças a Jennifer Lawrence que, desde que surgiu em “O Inverno da Alma” e “Jogos Vorazes”, parece se transformar na garota da hora. Hollywood precisa de sangue fresco, com voracidade vampiresca, pois são os jovens que fazem a máquina rodar, em especial junto ao público teen, majoritário nas salas de cinema contemporâneas. Acontece que Jennifer é mesmo um talento real. Tem graça, beleza, e aquela espontaneidade difícil de se encontrar. As bruscas mudanças de humor da sua personagem Tiffany não parecem artificiais e nem lhe tiram o encanto. Tem personalidade e é sensual. Dizem que é favorita ao Oscar de melhor atriz. Pode levar, o que seria a aposta da Academia no sangue jovem. Veremos dia 24 de fevereiro.
Enfim, é bom que se diga também que há muito besteirol ao longo do filme, que tudo é muito limpinho e não veio para mudar a história do cinema. Pelo contrário. Muita gente se pergunta o que estaria fazendo no Oscar e, ainda mais, com oito indicações, inclusive a melhor filme. Mas essa queixa seria superestimar o Oscar e também levar a ferro e fogo uma visão xiita do cinema.
Filmes como “O Lado Bom da Vida” têm todo direito à existência. Não fazem mal a ninguém. E, quer saber de uma coisa?, perigam até de fazer bem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O LADO BOM DA VIDA
Título original: Silver Linings Playbook. Direção: David O. Russell. Gênero: Comédia romântica (EUA/2012, 122 min.). Classificação: 14 anos.