Calendário das Águas é um livro de poesias que resgata o aspecto místico da água, ao mesmo tempo em que denuncia as agressões que o homem vem fazendo, seja com o lançamento de esgoto ou a construção de barragens. Para compor a obra, o autor Jelson Oliveira se valeu dos seus 10 anos de luta no movimento Comissão Pastoral da Terra (CPT), onde convive de perto com a questão da água.
Este é o quarto livro lançado por Jelson, e em todos eles deixa-se influenciar pelo trabalho à frente da CPT. “É uma poesia engajada. Trata da realidade das minorias excluídas”, comenta. Antes da água, o autor já falou sobre as questões da terra e das pessoas assassinadas nos últimos 25 anos de luta no campo. Os poemas estão divididos em ciclos que buscam revelar todos os refúgios das águas no planeta: Polares, Chuvosas, Rochosas, Fluviais, Marítimas e Lacustres. Além da água, o homem é figura de destaque: o poeta faz um resgate do sentimento de religiosidade de povos indígenas e africanos. Ele comenta que tal é a importância que os negros atribuem a água, que os seus deuses no Brasil têm o nome de rios da Nigéria. Já algumas tribos indígenas acreditam que as pessoas vieram do fundo dos rios e mares. “Para eles o sagrado vem da água”, fala. O homem ainda se faz presente quando se resgata o olhar e a sabedoria que emanam do campo. “Lá as pessoas observam a natureza e sabem até dizer quando vai chover”, comenta Jelson.
Mas o lado obscuro deste ser que sabe que precisa da água para sobreviver e mesmo assim não cuida dela também é denunciado. Jelson diz que grande parte dos rios brasileiros estão agonizando em meio ao esgoto doméstico e industrial, e nem no campo eles escapam. Lá são os agrotóxicos provenientes das lavouras os seus algozes. O poeta comenta que em recente pesquisa comandada pela CPT foi verificado que peixes da Bacia do Rio Ivaí, que abastecem cidades como Maringá, tinham 830 vezes mais chumbo do que o permitido.
Os problemas ocasionados pela barragens também são lembrados: “Os rios são corredores da vida. A semente que cai lá na Serra do Mar não consegue ir muito longe. Fica presa nos muros de pedra”, fala. Outra conseqüência é a extinção da piracema, os peixes ficam retidos pelos paredões e não conseguem chegar até o local certo para desovarem, diminuindo a população e as espécies. “A intenção do livro é despertar nas pessoas um olhar mais profundo sobre a água”, resume o poeta.
