Isabel Allende e o Chile descoberto

Em Meu país inventado, Isabel Allende conta a história de sua vida e a do Chile – uma intrinsecamente ligada à outra, atadas pelas suas lembranças. A presença contínua do passado, a melancolia resultante dessa presença e do afastamento da pátria, a consciência de ter sido peregrina e forasteira: sobre tudo isso fala a escritora, com a emoção naturalmente despertada pelos fatos trazidos à tona, mas também com a inteligência e o humor que sempre foram marcas de sua literatura.

Isabel Allende é sobrinha do ex-presidente Salvador Allende, assassinado em 11 de setembro de 1973. Ambos de família semi-aristocrática chilena, aquela que tem dinheiro para comprar tudo que a casa precisa, mas não tem poder para comprar os militares e políticos corruptos.

Logo no primeiro capítulo, Allende explica que dois fatos recentes desencadearam nela uma epidemia de lembranças. O primeiro foi a observação de seu neto Alenjandro. Ao vê-la examinando as rugas no espelho disse: “Não se preocupe, você ainda viverá pelo menos mais três anos”. E o segundo fato aconteceu durante uma conferência de escritores. Um jovem perguntou-lhe que papel a nostagia desempenhava em seus romances. Se por um lado a pergunta tirou-lhe o fôlego, também a fez perceber que a nostalgia é o seu vício e para responder à questão deveria mencionar sua família, suas raízes. Podemos afirmar que Allende foi mais longe na resposta do que poderia imaginar. Meu país inventado é prova disso.

Para quem não conhece o Chile e os chilenos a narrativa é perfeita. Allende possui um texto franco e simples, gostoso e fluente como um pequeno conto. O Chile é apresentado ao mesmo tempo como um país real e fantástico; uma terra sofrida e estóica, mas sempre hospitaleira; um povo de homens machistas e mulheres fortes,

A autora soube explicar o que os chilenos passaram nos últimos 200 anos, acontecimentos e atitudes que a maioria dos países desta sofrida América do Sul enfrentam no dia-a-dia. Vale a pena entender o Chile e seu povo, mas vale mais a pena passar horas aproveitando o texto de Isabel Allende, chilena, controversa que mora em São Francisco e é casada com um americano. Paradoxo.

Serviço

: Meu país inventado Mi país inventado Memórias Tradução: Mario Pontes Lançamento: dezembro de 2003 R$ 31,00 238 páginas.

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